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COP26: última chamada para o futuro do planeta

Por Paulo Lima e Roberto Barbiero

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), a ser realizada em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro, representa uma provável última convocação para as medidas necessárias e urgentes a serem tomadas pelos governos mundiais para enfrentar a crise ambiental.

As mudanças climáticas estão cada vez mais fora de controle. O recente relatório sobre o clima do Grupo Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), denominado “Código vermelho para a humanidade” por Antonio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, destacou como “o clima está mudando de forma mais rápida e intensa do que o esperado, enquanto as ações tomadas em nível global para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, conter o aquecimento global e combater a crise climática ainda são completamente insuficientes”.

A comunidade científica sublinhou como o papel das atividades humanas no aquecimento global é inequívoco e como a temperatura da Terra aumentou a uma taxa sem precedentes, pelo menos nos últimos 2.000 anos, atingindo o limiar de 1,1° C em comparação com a era pré-industrial. Os impactos nos sistemas naturais agora são evidentes. O nível do mar continua subindo, mais de 20 cm desde 1901; os oceanos estão esquentando; os glaciares continentais e marinhos estão diminuindo; o oceano Ártico perdeu 40% de sua extensão desde 1979. Os eventos são cada vez mais frequentes e intensos, como fortes chuvas e consequentes inundações, mas também ondas de calor e secas, que em conjunto contribuem para condições favoráveis ​a incêndios, como aconteceu na zona mediterrânica no verão.

O apelo do mundo científico é claro: sem uma redução rápida e substancial das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo, será impossível cumprir os objetivos do Acordo pelo Clima de Paris. Metas que pretendem limitar o aquecimento a 2° C no final do século em relação ao período pré-industrial, mas fazer todo o possível para ficar abaixo de 1,5° C de aumento. Tudo isso para evitar o alcance de limiares que tornariam irreversíveis certos processos físicos em andamento, como o derretimento do gelo, a elevação do nível do mar e a perda de ecossistemas que tornariam catastróficos os efeitos na sobrevivência da espécie humana.

Diante dessa emergência climática, os países se apresentam às vésperas da COP26 com sinais não muito reconfortantes, como evidenciado, por exemplo, pelo recente “Emissions Gap Report 2021” do PNUMA sobre a lacuna entre as emissões registradas em comparação com as reduzidas que seriam necessárias para manter o aquecimento global dentro dos limites estabelecidos pelo Acordo de Paris.

As novas contribuições voluntárias nacionais (Nationally Determined Contributions-NDCs), que quantificam os compromissos renovados para contribuir para a realização dos objetivos do Acordo sobre o Clima de Paris, mostram um progresso fraco e são completamente insuficientes tanto no curto prazo, até 2030, e em o longo período, ou seja, até 2050, ano em que se deve esperar a conquista da neutralidade climática, ou seja, o equilíbrio entre as emissões antrópicas e a absorção de gases de efeito estufa.

Os compromissos renovados de redução dos gases de efeito estufa, mesmo que efetivamente aplicados, ainda levariam a um aumento estimado da temperatura de 2,7° C, não sustentável para o Planeta. As principais economias, reunidas em torno do grupo G20, responsável por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, apresentam sinais muito ambíguos. Estados Unidos, Europa e Grã-Bretanha são os países que, de forma formal, têm apresentado os maiores compromissos de redução de emissões. China e Japão apenas prometem melhorias. Brasil e México até pioram seus compromissos, prevendo aumento em emissões, enquanto a Índia ainda não fez nenhuma declaração sobre o assunto. O relatório do PNUMA denuncia também como, na maioria dos países, tem faltado a oportunidade de utilizar os recursos previstos para poupar e estimular as economias dificultadas pela COVID-19 e ao mesmo tempo promover a transformação para as economias.

O que se espera da COP26 é, portanto, uma rápida mudança de marcha e na mesa de negociações há pelo menos quatro prioridades nas quais o sucesso ou o fracasso da nomeação estarão em jogo.

1) As ambições dos planos nacionais (PADs) devem ser aumentadas para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, em particular nos setores de produção e consumo de energia (indústrias, transporte, habitação) e no setor alimentar (pecuária e agricultura intensiva, processamento e distribuição, desperdício e desperdício de alimentos), bem como reduzir imediatamente a exploração de florestas e solos. Os compromissos devem olhar para o horizonte de neutralidade climática a ser alcançado até 2050, planejando a saída da economia da dependência do uso de combustíveis fósseis;

2) É necessário cumprir os compromissos assumidos em relação ao apoio financeiro aos países com maiores dificuldades, em particular no que se refere à promessa dos países desenvolvidos, feita há 10 anos, de mobilizar 100 bilhões de dólares por ano para apoiar os países em vias de desenvolvimento no políticas de mitigação e adaptação ao clima;

3) Devem ser concluídas as negociações pendentes relativas, em particular, aos mecanismos de transparência entre os países e à regulamentação necessária para tornar operacional o Acordo de Paris sobre o clima. Um problema a ser resolvido será o relativo às regras do artigo 6º que permitiriam operacionalizar instrumentos de mercado de carbono, como a comercialização de cotas de emissão, e instrumentos não mercantis, por exemplo, medidas fiscais, como a fixação de um preço sobre o carbono ou da aplicação de impostos para desencorajar as emissões;

4) Passos são essenciais para a implementação de ações de adaptação e de financiamento, tão necessários para proteger e recuperar ecossistemas e apoiar sistemas de proteção, prevenção e alerta contra o perigo de eventos extremos, especialmente em países em desenvolvimento.

O mundo, portanto, olhará para a COP26 na esperança de que uma mudança profunda na ação climática seja realmente feita. O tempo acabou. Será decisivo o papel da sociedade civil e das organizações não governamentais que estarão presentes em Glasgow como observadores para pressionar os delegados dos vários países.

Uma contribuição fundamental vem dos jovens que vão a Glasgow com a força do primeiro “Youth4Climate Manifesto”, um manifesto que recolhe as ideias e propostas que surgiram em Milão, no final de setembro, durante o evento “Youth4Climate Driving Ambition”, então discutido em reuniões de consulta subsequentes. Entre as muitas e importantes propostas, os jovens estão pedindo para serem envolvidos agora “em todos os processos de tomada de decisão” relacionados às mudanças climáticas.

Como acontece há dez anos, a Viração, por meio da sua Agência Jovem de Notícias internacional, também estará presente com um grupo de jovens brasileiros, argentinos, colombianos e italianos.

Como sempre, contamos com a parceria de jovens do Engajamundo e, desta vez, da galera do Fridays for future, que também vão compartilhar conosco seus conteúdos produzidos diretamente desde Glasgow.

A produção da cobertura jornalística educomunicativa pode ser acessada aqui no site e nas redes sociais da Agência Jovem de Notícias.

 

A equipe da Ashoka Brasil fez um resumo do Manifesto ‘Youth4Climate: Driving Ambition’, em Português em seu canal no Medium. Acesse Juventudes Pelo Clima: Impulsionando a Ambição.

Eco-ansiedade

Evitar um cenário quase apocalíptico vem sendo a missão de ativistas ambientais do mundo todo. As secas, enchentes, incêndios, o aumento da temperatura global, o desmatamento e tantos outros fenômenos, somados às desigualdades estruturais que as populações das periferias do mundo enfrentam, chocam e prejudicam a saúde mental. É o que a psicologia vem chamando de eco-ansiedade.

Nesse artigo, a Amanda da Cruz Costa nos conta sobre as causas da eco-ansiedade que ela sente enquanto jovem brasileira e aponta para uma saída possível.

Por Amanda da Cruz Costa

A American Psychology Association (APA) descreve a eco-ansiedade como “o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.

Mãos geladas, estômago embrulhado, coração palpitando e um medo incessante do futuro…

Qual é o futuro que estamos construindo?

o estudo abrangente, mas ainda sem revisão, publicado pelo periódico científico Lancet Planetary Health e intitulado Young People’s Voices on Climate Anxiety, Government Betrayal and Moral Injury (Opiniões dos Jovens sobre Ansiedade Climática, Traição Governamental e Dano Moral), realizado em 2021, abrangeu 10 mil indivíduos de 16 a 25 anos, que moram em dez países, incluindo o Brasil.

Eles declararam que os problemas ecológicos os fazem sentir uma gama de emoções negativas, como medo, raiva, tristeza, desespero, culpa e vergonha. Também os deixam confusos, sem perspectiva de futuro e com a impressão de que os adultos e os governantes os traíram ou abandonaram.

Joice Ferreira, no site da Revista Piauí

Mal conseguimos sobreviver ao presente! Nossos sonhos são assassinados dia após dia e enfrentamos tantos desafios que mal sobra tempo para cuidar do coração:

  • genocídio da população preta;
  • desmonte de políticas socioambientais;
  • queimadas, desmatamento, contrabando ilegal da fauna e flora e
  • um vírus mortal que mata principalmente os mais vulneráveis.

Além do mais, temos que lidar com uma multiplicidade de crises: climática, democrática, sanitária, ambiental, econômica, social… Não sobra tempo para viver!

Eu, enquanto jovem mulher, deveria estar indo para os rolês, paquerando os #boymagias e viajando com as minhas amigas! No entanto, evito sair de casa por conta do COVID-19, estudo dia e noite para enfrentar a crise climática e tenho medo de colocar um filho no mundo, pois não sei oque ele encontrará daqui alguns anos.

 

Roubaram o meu futuro e sequestraram a minha juventude. Me entregaram um mundo cheio de problemas e colocaram toda a responsabilidade de encontrar soluções na minha geração.

Isso não é justo!

O ecocídio causado pelo governo Bolsonaro acentuou nossa eco-ansiedade: estamos tristes, desesperançosos e desesperados! Eu não quero viver com medo do futuro, mas quero construir parcerias intergeracionais para desenvolver soluções que vão salvar o meu presente.

O cenário é desafiador, mas não estou sozinha.

Bora construir esse futuro juntes?

Quer ler mais sobre eco-ansiedade?

  1. Ecoansiedade: o mal do século XXI? Conselho Regional de Psicologia do Paraná
  2. NÃO TEMOS TEMPO A PERDER. Joice Ferreira, Revista Piauí
  3. Eco-ansiedade: o medo do colapso ambiental. Crianças e jovens são os mais afetados. Lara Meneguelli, no Green Me.
  4. Eco-ansiedade: medo da catástrofe ambiental cresce em jovens. Na Época Negócios

Leia outros textos da Amanda sobre questões do clima:

  1. Você sabe o que é Racismo Ambiental?
  2. Sustentabilidade para mim?
  3. Como celebrar a vida num planeta que beira a morte?
  4. Qual futuro estamos construindo?
  5. Um futuro sustentável

 

Educação Ambiental: ferramenta para a preservação

A Educação Ambiental é uma disciplina dedicada ao manejo consciente dos recursos naturais. A data tem o intuito de lembrar a importância de práticas pedagógicas voltadas à preservação do meio ambiente, especialmente diante da intensa degradação dos ecossistemas brasileiros.

Por Larissa Helena Carneiro

A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) afirma que:

“A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo”, e que cabe às instituições educativas “promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem”.

Apesar de seu suporte legislativo, a matéria não é muito valorizada e os professores encontram problemas para sua aplicação. De acordo com o artigo Educação Ambiental na Base Nacional Comum Curricular, de Giovani de Souza Barbosa e Caroline Terra de Oliveira, na BNCC, “há uma exclusão do conceito de Educação Ambiental, como importante área de conhecimento para os estudos realizados na Educação Básica”.

Além disso, ao estudar sua aplicação no ensino fundamental de escolas públicas, a bióloga e doutora em Educação Claudia Ferreira constatou que os docentes não recebem orientações adequadas para falar sobre o tema.

 

No artigo “O meio ambiente na prática de escolas públicas da rede estadual de São Paulo: intenções e possibilidades”, Ferreira diz que as intenções de incluir a Educação Ambiental no cotidiano escolar:

só serão atingidas com um bom planejamento; cobrança do poder público – que deveria considerar propostas sugeridas pela sociedade civil para a elaboração e execução de políticas públicas – e envolvimento de todos os sujeitos do contexto escolar e da comunidade, para a construção de uma sociedade participativa, sustentável e integrada.

A Educação Ambiental é importante para a formação individual e o bom desempenho na área de Ciências da Natureza, e mais do que isso: é essencial para a preservação do que resta dos nossos biomas.

Imagem de ShutterStock

Quer saber mais sobre o assunto? Veja as referências abaixo e leia o texto da Amanda da Cruz Costa sobre o Dia Nacional da Educação Ambiental!

  1. Educação Ambiental na Base Nacional Comum Curricular: retrocessos e contradições e o apagamento do debate socioambiental
  1. O meio ambiente na prática de escolas públicas da rede estadual de São Paulo: intenções e possibilidades | Ambiente & Educação

Para desmentir FAKE NEWS sobre a crise climática

Uma lista de dicas práticas pra você não cair em fake news sobre as mudanças climáticas e começar a adotar comportamentos mais sustentáveis

Por Lívia Gariglio

Veicula-se pela internet que o sol está ficando mais quente e não há nada o que se possa fazer para evitar o aquecimento global, entretanto, isso é inverídico, uma vez que já foi provado que a maior causa do aumento de temperatura mundial é a ação humana.

 

Ilustração: Jovens Repórteres para o Meio ambiente PT / reprodução

 

COMO MUDAR ISSO?

… na sua casa:

  • Plante árvores nativas da região no seu quintal e na sua comunidade;
  • Preze por energias alternativas, como a solar, eólica e biocombustíveis;
  • Use as regrinhas básicas de economia de energia.

.. nos seus hábitos

  • Leve garrafinha contigo (diminuindo o uso de copos e garrafas plásticas);
  • Caminhe pequenos trechos a pé;
  • Evite o uso de canudos, copos, talheres e pratos descartáveis;
  • Não desperdice alimentos, reutilizando-os, por exemplo, em compostagem;
  • Faça turismo sustentável;
  • Use coletor menstrual, evitando descarte enorme de absorventes;
  • Divulgue de forma acessível pesquisas e ações sobre esse tema;
  • Doe roupas, sapatos, bolsas, mochilas e acessórios.

… com carro e transportes:

  • Faça a manutenção veicular, pois, a falta de calibração do motor, por exemplo, aumenta a poluição do ar;
  • Troque o tipo de combustível ou vá de bicicleta, a pé, por transporte público ou carona.

… com o lixo:

  • Participe da coleta seletiva (de forma correta) e não jogue lixo na rua e sim no lixo;
  • Compacte embalagens para descartá-las (otimizando espaço dos caminhões de lixo e poupando combustível);
  • Ajude os catadores, especialmente se tratando da quarentena.

… nas suas compras de mercado e nas gerais:

  • Repense o seu consumo e use SEMPRE uma ecobag;
  • Apoie a permacultura e pequenos produtores em detrimento dos latifúndios;
  • Consuma menos carne bovina/suína (evita desmatamento e grande emissão de gases)
  • Compre a granel (cereais, grãos, macarrão, farinha, até café e azeite);
  • Use sacos de pano para as compras secas, potes de vidro para os úmidos ou em pó e garrafas para líquidos;
  • Compre de empresas que emitem menos gases de efeito estufa;
  • Prefira embalagens reutilizáveis/retornáveis ou a refil;
  • Use comprovantes digitais, pois os recibos geralmente não são recicláveis;
  • Compre roupas de segunda mão ou de marcas ecologicamente corretas;
  • Prefira móveis de madeira certificada.

… com papel:

  • Priorize livros usados a livros de primeira mão e caso o livro seja lançamento, priorize a versão digital à versão impressa;
  • Imprima só o necessário, usando os dois lados da folha, e as usadas, utilize como rascunho;
  • Dê preferência a receber correspondências por e-mail;
  • Recicle papel de forma caseira.

… na política e cidadania

  • Cobre políticas públicas;
  • Participe do e-cidadania e abaixo-assinados (change.org, por exemplo);
  • Fiscalize dados e cobre ativamente a divulgação deles;
  • Cobre a construção de aterros sanitários, substituindo lixões;
  • Olhe se os empresários que apoiam campanha do político X são latifundiários ou de grandes empresas antiecológicas;
  • Cobre do CONAR maior restrição de propagandas com crianças como público-alvo;
  • Cobre a reciclagem de lixo eletrônico;
  • Fiscalize a cobrança do descarte correto de lixo hospitalar;
  • Peça a realização de queimadas controladas para os órgãos responsáveis, evitando incêndios.

… nas empresas

  • Compre de empresas que tem preocupação com isso (olhar os selos, por exemplo);
  • Cobre as empresas que tem obrigação de reflorestar;
  • Cobre das empresas de mineração o uso de barragem a seco;
  • Na sua empresa ou escola, peça que se utilizem canecas pessoais e canudos de metal ao invés de copos de café e canudos normais;
  • Coloque a empresa em que você atua na coleta seletiva.

… por fim:

  • Participe de ONGs, coletivos e projetos sociais em prol da sustentabilidade, do engajamento social, da permacultura e da agrotecnologia consciente;
  • E entenda que se mobilizar é a única maneira para realmente evitar a mudança climática. ENGAJE-SE!

Como criar uma cidade sustentável e comprometida com a igualdade de gênero?

Uma sociedade só se torna justa e sustentável quando todos os setores e políticas se conectam; não considerar ultrapassar as barreiras desiguais de gênero e raça impedem que o desenvolvimento pleno seja atingido.

Por Rayana Burgos*

2020 é um ano atípico e isso é fato. No entanto, existem problemas que acompanham as cidades brasileiras há anos. As eleições municipais acabaram nas cidades brasileiras, mas foram importantes porque trouxeram para o debate o papel das Prefeituras na criação de cidades sustentáveis e comprometidas com a igualdade de gênero.

O acelerado crescimento das cidades, quando não é guiado por políticas preparadas à expansão social, gera municípios mal planejados, dificulta a qualidade dos serviços oferecidos e compromete o meio ambiente.

Apesar desses erros socioambientais que surgiram com o desenvolvimento dos Municípios, existem soluções criadas em 2015 e compartilhadas pela ONU dentro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que tem o intuito de propor medidas firmes para erradicar a pobreza, criar cidades mais justas e sustentáveis.

A Agenda 2030 contém 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e podem guiar as prefeituras para desenvolverem uma gestão sustentável e responsável pela redução das desigualdades sociais entre homens e mulheres.

Todos os ODS estão interligados se considerarmos que uma sociedade só se torna justa e sustentável quando todos os setores e as políticas da cidade se conectam visando o bem-estar da população.

No entanto, é necessário incluir os ODS 5 e 11, que focam na igualdade de gênero e na construção de cidades e comunidades sustentáveis, respectivamente, nos planos de desenvolvimento municipal, como o plano plurianual, por exemplo.

Olhar para todas as políticas públicas como potenciais medidas de redução da desigualdade entre homens e mulheres e como fator chave na criação de cidade sustentável é um caminho ideal, porque não considerar ultrapassar as barreiras das desigualdades de gênero e raça impedem que o desenvolvimento pleno da cidade seja atingido.

Para facilitar a adoção de políticas que possam reduzir as desigualdades de gênero e minimizar os efeitos das mudanças climáticas, é necessário adotar o conceito de transversalização de gênero (ou gender mainstreaming) isto é, reorientar as políticas públicas para o objetivo de igualdade de gênero, garantindo melhoria das condições de vida das mulheres [1].

Ao mesmo tempo em que mulheres, principalmente as pretas e indígenas, são as mais afetadas pelas mudanças climáticas [2] e pela má gestão das cidades, investir em políticas com abordagens de gênero é um passo para a construção de uma cidade comprometida com a justiça climática e a igualdade social de toda a população.

Texto: Rayanna Burgos

Notas:

* Este artigo foi escrito durante o curso oferecido pelo Youth Climate Leaders reforçando o compromisso da autora com as questões em debate.

[1] – Marcondes, M. M., Diniz, A. P. R., & Farah, M. F. S. (2018). Transversalidade de gênero: uma análise sobre os significados mobilizados na estruturação da política para mulheres no Brasil. Revista Do Serviço Público, 69(2), 36-62. https://doi.org/10.21874/rsp.v69i2.2297

[2] – Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas-afetam-mais-as-mulheres/av-42910053 . Último acesso feito em 03/11/2020.

Você sabe o que é racismo ambiental?

Olá minhas hortinhas orgânicas, como vocês estão?

Eu estava morrendo de saudades dos nossos papos mensais! Durante 6 meses nós refletimos sobre as interseccionalidades da Agenda 2030 e agora quero compartilhar meu novo tema de investigação, o Racismo Ambiental.

Mas antes de apresentar uma narrativa sobre essa temática, quero te mostrar a importância de investigar o Racismo como um problema Estrutural.

Acredita que eu já ouvi as seguintes frases:

  • Amandinha, que chatice falar de racismo. Somos todos humanos!
  • Racismo é coisa de gente mimimi. Quem quer consegue!
  • Você mora numa casa tão bonita! Não deveria falar que é na periferia.

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Em um mundo que a raça define a vida e a morte, não a tomar como elemento de análise das grandes questões contemporâneas demonstra a falta de compromisso com a ciência e com a resolução das grandes mazelas do mundo. – Silvio Almeida

Queridos, internalizem uma verdade: o racismo é sempre estrutural, ou seja, integra a organização social, econômica e ambiental da sociedade contemporânea.

Essa hierarquia opressora serve como uma tecnologia de colonialismo contra os povos vulneráveis, prejudicando principalmente a galera preta, indígena, quilombola, ribeirinha e todos os demais grupos minoritários que ocupam a base da pirâmide social.

Decidi fazer um recorte para essa narrativa, abordando essa temática a partir do meu lugar de fala, como mulher preta e periférica.

Reflete comigo: Por que existe uma predominância de povos pretos nas favelas e periferias? Por que esses lugares são tão carentes de educação, saúde, saneamento e estruturas básicas que possibilitam uma vida abundante e de qualidade?

Precisamos romper com a cisão criada numa sociedade desigual e criar novos marcos civilizatórios que coloquem sujeitos historicamente subalternizados como protagonistas do debate, fortalecendo sua resistência e reexistência!

RACISMO AMBIENTAL

O Termo Racismo Ambiental foi abordado pela primeira vez pelo líder afro-americano ativista pelos direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr, em 1981, num contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais.

De acordo com o Dr. Franklin:

racismo ambiental é a discriminação racial na elaboração de políticas ambientais, aplicação de regulamentos e leis, direcionamento deliberado de comunidades negras para instalações de resíduos tóxicos, sanção oficial da presença de venenos e poluentes com risco de vida à comunidades e exclusão de pessoas negras da liderança dos movimentos ecológicos

O termo foi expandido e além de abordar a exposição a resíduos tóxicos, inclui inundações, contaminação pela extração de recursos naturais e industriais, carência de bens essenciais ou a exclusão da administração e tomada de decisões sobre as terras e os recursos naturais pelas populações locais.

Escrever sobre Racismo Ambiental é lutar contra a neocolonialismo exercido pelo sistema capitalista de supremacia branca, que insiste em se apropriar dos recursos das populações pretas, periféricas, indígenas, quilombolas e ribeirinhas.

Pautar esse temática é evidenciar as injustiças ambientais pelas quais os povos vulneráveis são submetidos. Regiões indígenas não demarcadas, favelas com alto risco de deslizamento de terra, lixões e áreas urbanas não atendidas por saneamento básico são exemplos característicos da opressão contra grupos minoritários.

Os povos menos favorecidos socioeconomicamente estão sobrecarregados dos danos ambientais impostos em seus respectivos territórios. Está na hora de construir uma atuação ambientalista que seja intrinsecamente antirracista!

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Eu cansei de ouvir que “meio ambiente é assunto de gente branca, rica e burguesa”. Eu estou aqui para quebrar padrões! Sou preta, moro na periferia de São Paulo e assumi o ativismo climático como um dos pilares da minha vida, desafiando o status quo e contrariando a lógica heteronormativa que insiste em silenciar a minha voz.

 

Genocídio não é só a morte por tiro, mas é toda a lógica de exclusão baseada na nossa identidade racial que faz com que a minha vida seja descartada dentro do sistema. – Stephanie Ribeiro

Querido leitor, te convido a refletir sobre essa temática, descolonizar o seu pensamento e a diversificar a sua curadoria de conteúdo. Que tal começar pelo seu Instagram, seguindo ativistas ambientais pretos e periféricos? 🙂

Texto de Amanda da Cruz Costa

 

Sustentabilidade para mim?

Olá meus leitores queridos 🙂

Depois de 6 meses estudando, analisando e refletindo os conceitos macro e micro dos famosíssimos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), chegamos ao nosso último texto da série #Agenda2030!

Nesse artigo, quero levá-los para uma reflexão mais profunda sobre sustentabilidade, que passa pelo planeta, seu corpo e sua mente.

Booooora juntinhes?

O termo “Desenvolvimento Sustentável” surgiu em 1987, com a Gro Harlem Brundtland, a primeira ministra da Noruega. Gro foi uma das protagonistas do Relatório Nosso Futuro Comum (ou Relatório Brundtland), documento elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU.

De acordo com o Relatório, Desenvolvimento Sustentável é definido como:

O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”

Quando o assunto Desenvolvimento Sustentável vem a tona, muitos pensam em

  • Agenda 2030;
  • Ecossistemas;
  • Economia verde;
  • Economia circular;
  • Consumo Consciente;
  • Economia de Baixo Carbono;
  • Morar na praia e viver da arte que a natureza dá.

No entanto, gostaria de convidá-los a sair da superficialidade e mergulhar dentro dos seus próprios pensamentos: você já pensou em algo parecido com isso:

  • Preciso aproveitar esse momento para estudar! Depois eu descanso…”
  • “Se eu quero ter sucesso preciso estudar enquanto ‘eles’ se divertem.”
  • “Vou trabalhar muiiiiito até meus 30 anos, evitando bares, passeios e viagens. Depois eu aproveito.”

Esse é o padrão de pensamento considerado “”””correto”””” pelos gurus de produtividade e riqueza da internet, contudo, não sinto que ele será sustentável a longo prazo. É muito importante estarmos atentos para não cair numa linha tóxica de raciocínio! Apesar de suuuper criticar o sistema capitalista que vivemos, modelo fundamentado na competição e exploração, me peguei reproduzindo esses vieses comigo mesma!

Amo o que eu faço, coloco meu coração no trabalho e sou apaixonada por ativismo com propósito. Contudo, fui provocada por uma amiga a repensar esses valores, a fim de evitar um burn out ou um piripaque nervoso rs.

Ainda não tenho respostas, mas acredito que é o melhor caminho a ser seguido é o equilíbrio.

Afinal, ser sustentável é pensar a longo prazo, usar os recursos presentes sem comprometer as gerações futuras. (Nesse caso, meus filhos fofinhos que planejo ter).

Queridos leitores,

  • Será que as suas decisões e escolhas são feitas de forma consciente? Ou será que elas são um mero fruto de um padrão tóxico de comportamento imposto por uma sociedade doente?

Sustentabilidade vai muito além de uma Agenda Global com 17 Objetivos, 169 Metas e 231 Indicadores! Sustentabilidade é pensar no planeta, pensar nas pessoas e, acima de tudo, PENSAR EM VOCÊ!

“Qual é o mundo que você deseja construir?”

Antes de cuidar do mundo, cuide de você! Se aproxime de pessoas positivas, divirta-se numa tarde no parque e relaxe. Respire ar puro, deite-se na grama e permita-se viver o aqui e o agora.

O mundo está meeeega esquisito, mas não poderemos fazer nada, nadica de nada, n-a-d-a mesmo, se não estivermos bem! Você pode ser um jovem engajado e ainda curtir um ócio criativo com seus amigos 🙂

Amanda da Cruz Costa é colunista da Agência Jovem de Notícias.

Como se engajar na agenda 2030?

Como a juventude pode potencializar a promoção e territorialização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Por Amanda da Cruz Costa

Chegou hoje? Não deixe de dar uma olhada nos textos:

Fala galeeera, belê? Chegamos no 5º encontro da nossa série.

Depois de tanto conhecimento teórico chegou a hora de arregaçar as mangas e colocar a mão na massa! Hoje vou apresentar algumas possibilidades de engajamento na Agenda 2030. Booooora juntinhes?

1. NÍVEL NACIONAL

Existem diveeeeersas organizações da sociedade civil que trabalham diretamente com a Agenda 2030, mas nesse texto quero falar sobre a minha experiência com organizações que possibilitam que jovens ocupem espaços de diálogo e de tomada de decisão. Espero do fundo do meu coração que após ler esse texto, você abrace uma causa e se posicione como uma liderança jovem que decidiu construir um futuro sustentável!

Engajamundo

A missão do Engaja é mostrar para o jovem brasileiro que se ele mudar ele mesmo, seu entorno e souber as ferramentas políticas, ele pode transformar sua realidade. Para tornar essa frase babadeira uma realidade, o Engajamundo desenvolve ações a partir de 3 níveis: local, nacional e internacional.

Local: Os núcleos locais (pessoal do mesmo estado) tem total liberdade para puxar ações de ativismo, reuniões com tomadores de decisão e formações em escolas públicas (Caminhos da Solução e Passo a passo do Advocacy).

Nacional: Existem 5 Grupos de Trabalho (carinhosamente apelidados de GT’s), que são espaços de discussão e co-criação online onde xófens ativistas das cinco regiões do Brasil trabalham para territorializar uma agenda da ONU. Os temas são ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), Clima, Biodiversidade, Cidades e Comunidades Sustentáveis e Gênero.

Internacional: Todos os anos o Engaja leva uma delegação de jovens para os espaços de discussão global. Tem a COP de Clima, a COP de Biodiversidade, o Fórum Político de Alto Nível, a CSW, Habitat etc.

Crie seu projeto

Se você tem um perfil empreendedor, essa opção é para você! Outra forma de se engajar na Agenda 2030 é criando um projeto individual, onde você possa transbordar assuntos relacionados a sua causa!

Depois de um tempo engajada nos debates sobre sustentabilidade, eu percebi que esses espaços eram ocupados majoritariamente por homens brancos héteros cis-gênero e VELHOS. Super absurdo, não é? Para mudar essa realidade, decidi criar o PerifaSustentavel, cuja missão é democratizar o conhecimento para as periferias de São Paulo.

Antes da pandemia, eu fazia workshops na minha comunidade a partir de três pilares-base:

  • Roda de conversa: “o que é o mundo ideal?”
  • Contextualização sobre a Agenda 2030;
  • Chamada para a ação: como NÓS podemos criar um mundo sustentável?

Como começar seu projeto:

  • Defina uma causa: a causa está vinculada com sua mensagem, é aquilo que queima em seu coração e te dá energia para alcançar o seu propósito. Se você sentir dificuldade em escolher uma causa, olhe para a Agenda 2030 e escolha 2 ou 3 objetivos.
  • Networking de impacto: depois de definir sua causa, se aproxime de pessoas que têm objetivos semelhantes ao teu. Somos a média das 5 pessoas com quem mais nos relacionamos e, se queremos transformar nosso mundo, precisamos ficar perto de pessoas que estão comprometidas em deixar um futuro melhor para as próximas gerações.
  • Transborde: Agora que você já definiu sua causa e se aproximou de pessoas marabrilhosas, está na hora de agir! Desenvolva projetos, campanhas, ações pontuais… O importante é começar 🙂

2. NÍVEL INTERNACIONAL

Eu, como internacionalista arrasadora que sou, também quero apresentar duas organizações internacionais que estão mudando a realidade de diversaaaaas pessoas, utilizando o “pensar global, agir local” como estratégia principal.

Youth Climate Leaders (YCL)

O Youth Climate Leaders é uma organização internacional que trabalha para capacitar, empoderar e conectar 1 milhão de jovens profissionais do clima até 2030 [super ousadíssimos, amooooo], através de 3 pilares:

  • Jornadas de aprendizagem (Capacitação): Essas jornadas possuem o objetivo de colocar o jovem num ambiente de construção de uma sociedade justa e sustentável, impacto coletivo e transformações individuais, através de práticas de autoconhecimento que fornecem um panorama amplo sobre clima.
  • Networking global (Conexão): conexão com jovens de diversos países, mentores, facilitadores e referências da área climática (Saiba mais sobre o Curso YCL e Imersões Internacionais).
  • Oportunidade concretas (Empoderamento): acesso a oportunidades profissionais e de voluntariado, workshops exclusivos para a rede, ações locais (Hubs YCL) e delegações da ONU.

Para ficar ligadinhe:

O YCL está com uma oportunidade babadeira de engajamento! No dia 24 de novembro acontecerá o Dia do Profissional do Clima, uma maratona de 24h de streaming para capacitar e integrar jovens na carreira climática. Se jogaaaa!

United People Global (UPG)

A UPG é uma comunidade internacional que tem a missão de “make the world a better place”, ou seja, “fazer o mundo um lugar melhor”. A organização nasceu com o objetivo de criar uma realidade de impacto, por via de 4 pilares:

  • Consciência: “É possível!” Mostra diferentes maneiras pelas quais as pessoas podem se engajar para tornar o mundo um lugar melhor. Ex: Ajudando as pessoas a entenderem e explorarem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
  1. Crença: “Sim, podemos!” Aumenta a crença de que cada pessoa é capaz de causar impacto. Ex: Desenvolvendo e promovendo iniciativas que tornam o mundo um lugar melhor por meio de treinamentos e capacitações.
  2. Colaboração: “Vamos trabalhar juntos!” Fomento de iniciativas nas quais as pessoas podem trabalhar em conjunto, usando os ODS como base.
  3. Comunidade: “Você não está sozinho!” Promove um senso de comunidade entre pessoas de vários países que compartilham um mesmo senso de propósito: tornar o mundo um lugar melhor.

CURIOSIDADE:

Meu projeto PerifaSustentavel nasceu através da UPG Sustainability Leadership Program, uma capacitação internacional focada em liderança cidadã para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Se você tem ideias que podem transformar sua comunidade, entra na UPG! Caso queira saber mais sobre a minha experiência, leia esse artigo.

Querido leitor, te apresentei 4 opções lacradoras de engajamento na Agenda 2030. Me conta nos comentários qual deu match perfeito com o seu coração? 🙂

 

 

Amanda da Cruz Costa é colunista da Agência Jovem de Notícias.

A Agenda 2030 é uma agenda racista?

A Agenda 2030 é uma agenda universal, integrada e indivisível. No entanto, precisamos sair da superficialidade e analisar com olhar crítico e questionador.

Por Amanda Costa

Olá querides! Como vocês estão?

Se você acompanha meus textos aqui na Agência Jovem de Notícias, já descobriu como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi criada e sabe que os 17 ODS não são um sonho utópico. No entanto, quero abordar um tema polêmico:

você acha que a Agenda 2030 é racista?

Apesar de ter contado com a participação dos 193 países membros da ONU, nenhum dos objetivos da Agenda contemplam a questão racial na sua integralidade e dinamismo. Há planos para promover a igualdade de gênero, erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades, combater a crise climática mas não há NENHUM objetivo específico que trace caminhos universais de combate ao racismo estrutural.

Eu, enquanto mulher preta e periférica, pesquisadora da Agenda 2030, senti que estava na hora de levantar essa questão e convidá-los à reflexão.

A Agenda 2030 é uma agenda universal, integrada e indivisível, que tem o lema de não deixar ninguém para trás.” No entanto, precisamos sair da superficialidade da branquitude e analisar essa agenda com um olhar crítico e questionador.

Assim que os ODS foram anunciados pelos países, percebemos que outra vez as mulheres negras e os grupos vulneráveis estavam de fora desse debate. (…) Vimos que era necessário que novamente as mulheres negras tomassem rédeas desse processo. –Lúcia Xavier, coordenadora do Criola

Apesar das falhas estruturais da Agenda 2030, houve iniciativas das Nações Unidas para mitigar esse câncer social. Um exemplo foi a parceria do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 com a ONU Mulheres Brasil, com o intuito de apoiar estratégias de inclusão de mulher negras em espaços de debate nacional.

Para que essa agenda se afine um pouco mais é preciso divulgar não somente os ODS, mas as possibilidades de incorporação das mulheres negras nesse processo. Talvez a maneira mais concreta de fazer isso seja (…) olhar os ODS como uma oportunidade e enegrecê-los a ponto de poderem dar resposta às condições da população negra e das mulheres negras. – Lúcia Xavier – coordenadora do Criola

A inclusão da mulher preta nos debates globais é imprescindível para a implementação dos 17 Objetivos e das 169 Metas da Agenda 2030. Não podemos ignorar que a ideologia de dominação brancocêntrica foi pulverizada em TODAS as estruturas sociais!

A mulher preta traz uma visão completamente diferente da visão eurocêntrica, possibilitando outros caminhos e soluções inovadoras para os desafios econômicos, sociais e ambientais presentes em nosso planeta.

Querides, sei que algumas pessoas se sentirão desconfortáveis com meus questionamentos. Contudo, temos opções:

  • Concordar com um sistema racista, machista, classista e opressor ou
  • Olhar para a estrutura social existente e desafiar o status quo.

Não quero falar da Agenda 2030 de forma rasa, mas escolho promover reflexões críticas com profundidade e interseccionalidades. O racismo não é um problema meu, é um problema nosso. Nosso engajamento moldará o mundo que deixaremos para as próximas gerações.

Não somos o futuro, somos o agora! – Hamangai Kariri Sapuya

Fonte: Mulheres negras destacam papel dos objetivos globais na eliminação do racismo

Amanda Costa é colunista da Agência Jovem de Notícias

Sobre Racismo ambiental

Pesquisa realizada nos Estados Unidos comprova que as mudanças climáticas estão impactando a vida das mulheres grávidas, principalmente negras.

Por Gabriela Baesse

Os impactos das mudanças climáticas estão sendo sentidos por cada um de nós em todos os lugares do mundo, algumas vezes de formas mais concretas como a falta de água, chuvas intensas, aumento da temperatura (o termômetro chegou a 38º na Sibéria semana passada!), poluição do ar, elevação do nível do mar e também de forma sútil, como com o uso excessivo de agrotóxicos e na nossa saúde.

Essas consequências são vividas de diferentes formas. Afinal de contas, cada um tem uma realidade própria que vai impactar na sua visão de mundo e nas dificuldades que enfrenta ao longo da vida. Alguns fatores que afetam isso são: o lugar em que você nasceu (cidade ou campo, centro ou periferia), seu gênero (homem ou mulher, trans ou cis), sua identificação étnico-racial (indígena, negro, branco ou amarelo), sua condição financeira e por aí vai.

Uma pesquisa saída agora do forno (publicada no dia 18 de junho de 2020) na JAMA Network, mostrou que as mudanças climáticas têm um impacto negativo para as gestantes e seus bebês. Com a revisão de vários estudos sobre o tema, foi possível observar mais de 32 milhões de nascimentos nos EUA, e o que eles revelaram? Que mulheres sujeitas a poluição do ar e expostas a temperaturas mais altas, têm mais chance de terem bebês prematuros, com baixo peso e natimortos (morte do feto após 20 semanas de gestação).

O trabalho também mostra que essas piores condições de saúde têm cor e endereço: afetam principalmente mulheres negras e periféricas. É mais um fator que desampara quem já está em uma situação de maior vulnerabilidade.

Trabalhadoras em Moçambique, África. Foto: Paula Santoro.

Além de terem piores condições socioeconômicas, as mulheres negras têm mais dificuldade para acessar serviços de saúde, assistência pré-natal, ao parto, sofrem mais violência obstétrica do que brancas, e segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2018) mais de 60% das mulheres mortas durante o parto são negras.

Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna e a Vida das Jovens Negras / Foto: Reprodução – Jornal Comunicação UFPR

Como vimos, a discriminação racial está presente na saúde, mas igualmente na política ambiental e isso tem nome: racismo ambiental. Ele faz com que a população negra (e outros grupos étnico-raciais, como os indígenas) sofram os efeitos mais indignos da degradação ambiental.

Brasília – Índios do Xingu fazem protesto durante coletiva da presidenta do Ibama, Marilene Ramos, sobre o enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Quanto mais esmiuçamos o assunto, mas vemos que a discriminação racial está em todos os lugares; ela pode ter uma roupagem mais direta, com crimes de ódio ou xingamentos, mas pode vir tentando se disfarçar, como através de abordagens mais violentas de polícias contra pessoas negras (João Pedro, presente! Agatha, presente!) e a falta de pessoas negras e indígenas em cargos de chefia ou nas universidades.

A pesquisa também traz à tona a questão de gênero, reforçando que as mulheres são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de serem quem menos contribui para isso, tendo em vista que as desigualdades econômicas fazem com que menos mulheres tenham um consumo que impacte nas mudanças climáticas.

Nós mulheres, enfrentamos desafios particulares na crise ambiental.

Além da questão reprodutiva, mulheres estão mais propensas a morrer em desastres ambientais, têm menor controle e acesso a recursos vitais como água, energia e moradia e somos menos representadas nas políticas públicas.

Atualmente o congresso federal brasileiro tem apenas 15,15% de mulheres e apenas 2,69% de mulheres negras, pardas ou indígenas. Como os problemas das mulheres, negras e indígenas vão ser pauta prioritária se o poder ainda está concentrado em homens brancos, velhos e cisgênero?

Para isso, precisamos de mais espaços para a participação ampla de toda sociedade, é urgente fornecer condições para termos cada vez mais mulheres, negras, indígenas e jovens participando da política, ocupando espaços de liderança em organizações públicas e privadas e tomando as decisões.

A pesquisa apresentada faz refletir sobre diversas temáticas como mudanças climáticas, saúde, gênero e raça. Como vimos no início, cada experiência é única, por isso precisamos assegurar a pluralidade de visões e você pode contribuir para isso ouvindo, divulgando e defendendo os direitos das gestantes, mulheres, negras e indígenas.

Gabriela Baesse é colunista da Agência Jovem de Notícias

Imagem destacada: Canal Preto / Reprodução Youtube