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A Agenda 2030 é um sonho utópico?

Ainda faz sentido seguir os direcionamentos da Agenda 2030 para um futuro sustentável? Discutir essa agenda é entender as medidas que podemos adotar para mitigar a desigualdade

Por Amanda Costa

Oláaaa meus xôfens engajados, como vocês estão?

No último mês conversamos sobre a Agenda 2030, a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Contudo, é beeeeem utópico falar sobre o “mundo ideal” quando estamos vivenciando um cenário tãaaao desesperador, não é mesmo?

São tantas coisas que não dá nem para escolher: é crush que visualiza e não responde, uma pandemia que já matou mais de 400k pessoas, as espinhas que surgem em partes inconvenientes do corpo, um movimento antirracista global, o desafio de encontrar um job com propósito e uma crise política profunda nos governos federal, estaduais e municipais do Brasil.

Com toda essa loucura, cabe o questionamento: será que ainda faz sentido seguir os direcionamentos da Agenda 2030 para alcançar um futuro sustentável?

Querides, esse momento me fez repensar em toda a minha vida: relações familiares e de amizade, trabalho, estudos e consequentemente a Agenda 2030, minha temática de pesquisa.

Acredito que, se queremos viver com paixão, precisamos revisitar nossos valores com frequência. Além de questionar os espaços que ocupamos, precisamos desenvolver práticas colaborativas e inclusivas, que tenham como um dos objetivos principais incluir os que estão à margem do sistema social. Um dos lemas da Agenda 2030 é “não deixar ninguém para trás”, o que significa ampliar esse discurso e dialogar com diferentes públicos.

Discutir a Agenda de Sustentabilidade é, na verdade, entender as medidas que podemos adotar para mitigar a desigualdade social! Por muito tempo os assuntos sobre meio ambiente e sustentabilidade adquiriram um caráter elitista, correspondendo a um sistema privatista e individualista.

No entanto, está na hora de criticar esse modelo e repensar a subjetividade econômica. Precisamos quebrar a lógica neoliberal que gera culpa e paralisia e transitar para um modelo social mais diverso, aberto e HUMANO.

Atualmente vivemos num sistema capitalista de supremacia branca, fundamentado em dois pilares: disputa e competição. Esse sistema utiliza a agressividade, a exploração e a narrativa do herói para conquistar oportunidades e ampliar domínios.

“O modelo de capitalismo explora e impulsiona ativamente crenças sexistas tradicionais que desempoderam negros, mulheres, homossexuais e povos originários que estão à margem do sistema social dominante.” Frase adaptada do Relatório Tempo de Cuidar, Oxfam Brasil, 2020

A construção de um mundo mais igualitário só será possível com mudanças sistêmicas, que valorizem a diversidade dos tipos de trabalho, sejam eles remunerados ou não. O atual crescimento desenfreado é insustentável e impossibilita que vivamos dentro dos limites ambientais do planeta. Portanto, devemos cessar a busca irrefreável pela riqueza e pelo lucro e valorizar uma ECONOMIA HUMANA!

Pessu, estamos enfrentando uma convergência de crises econômica, social e ambiental, o que nos permite fazer uma mudança integral e global. Booooora utilizar esse momento para nos apropriar dos mecanismos de transformação social?!

Você acredita que as pessoas e o planeta podem prosperar em equilíbrio? 👀

Sei que parece utópico, mas é possível simmmm! A economista inglesa Kate Raworth sistematizou um novelo modelo, conhecido como Donut (ou rosquinha, para os brazukas). Esse modelo já está sendo aplicado em muito lugares, como em Amsterdã, na Holanda.

Kate defende uma transição da economia do Séc. XX para a economia do Séc. XXI, no qual o PIB, um índice finito, seria substituído por uma rosquinha que relaciona as necessidades humanas com o impacto ambiental da economia na sociedade e na Terra como ente vivo.

O alicerce social do Donut é baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e determina os requisitos mínimos que cada ser humano tem necessidade. O teto ecológico do Donut compreende 9 limites planetários que identificam os sistemas críticos de suporte à vida. Confira abaixo:

Precisamos internalizar que “a economia existe para respeitar a vida!”

Somos a primeira geração a saber que estamos usando os recursos do planeta antes que ele consiga se regenerar, o que nos coloca num lugar de imenso privilégio: conduzir uma transição rumo a um futuro que respeite os limites do planeta. Se os Estados, a sociedade civil e as empresas trabalharem em conjunto poderemos construir uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável!

“Já imaginou se a nossa geração fosse a geração da virada que colocasse a humanidade nos trilhos do planeta?” – Carol Busatto

Bora colocar energia num sistema que valoriza a vida!

Se não nós, quem? Se não agora, quando? Nós somos parte da solução!

Amanda Costa é colunista da Agência Jovem de Notícias

 

 

 

A dificuldade de se mensurar a crise climática

Desde a ECO-92, muitos planos caminham junto com a gritante falta de ação efetiva para medir e conter os danos da crise climática. Por que as respostas são sempre insuficientes?

Por Igor Vieira

Já faz muito tempo desde que engravatados e entusiastas por uma nova era se reuniram no Rio em 1992 para pensar num novo acordo que trouxesse compromisso das nações através da convenção do clima das Nações Unidas.

Se o objetivo era evitar o que eles mesmos chamavam de interferência humana no sistema climático, faltam muitas reuniões que gerem ação.

Com o passar dos anos, essa gana deveria ter ficado mais forte – O cenário todos já conhecem: aquecimento, migrações, exploração de recursos naturais, colapsos socioambientais, populações em vulnerabilidade, eventos climáticos extremos, essa lista seguiram facilmente. A ciência que liga a crise climática a esses fatores é precisa e fala que as coisas tendem a piorar.

De certa forma, parece que o mundo está preparado para a tarefa que precisa ser executada. Existe a opção das energias renováveis, novas formas de pensar mobilidade urbana, formas diferentes de distribuir água e garantir seu acesso – em processos que viabilizem a descarbonização¹.

O que tem faltado é que os tomadores de decisão e formadores de políticas usem suas ferramentas para promover mudanças reais, taxem impostos sobre o carbono, regulamentem e, sanem uma dívida histórica que os grandes poluidores possuem com países em desenvolvimento, que são os mais afetados pela crise.

Mesmo com tudo isso sendo óbvio (para alguns), países e chefes de estado se reúnem ano após ano nas conferências de clima, se reencontram, discutem, tiram bonitas fotos e falam do compromisso de todos e não os levam a sério. Temos um problema óbvio, um desespero que só cresce, muita coisa em risco e soluções adequadas sendo sugeridas o tempo inteiro, principalmente por jovens e representantes dos povos originários e tradicionais. Ainda assim, por que a resposta é sempre insuficiente?

Para além do grande motivo óbvio: o lobby rico e extraordinário das grandes corporações poluidoras e detentoras de grande parte da economia global que escolhem como vão alertar sobre a crise climática e, em sua maioria, sequer o fazem. Alimentando um sistema de protagonistas e antagonistas que tem de um lado as indústrias de combustíveis fósseis com todo o dinheiro e do outro lado da balança todo o resto, que ainda assim, não parece ter peso para combater essa cultura dos fósseis que rejeita as evidências.

Existe outro ponto para se levar em consideração: o mundo não tem a mínima noção de como lidar com um problema tão complexo como a crise climática e nem as instituições que lutam para combatê-la fazem suas ações com completa certeza. A crise climática é um vilão invisível que se dissipa na diversidade de seus efeitos ao redor do mundo, fazendo com que seja cada vez mais difícil nomear e endereçar os problemas complexos causados pela dinâmica devastadora imposta por ela.

Os danos causados pela crise climática são diretamente sentidos por pobres, países pobres e pessoas em vulnerabilidade e isso, mais uma vez, retroalimenta o cenário de protagonistas e antagonistas criado pela indústria dos fósseis.

Se historicamente pobres sempre sofreram, quem tem dinheiro, em sua grande maioria não se importa com isso.

Os grandes empresários que taxam os barris de petróleo e a família que precisou se deslocar para morar em um novo país, muitas vezes de forma ilegal, para ter acesso à água não se conhecem – tenha certeza disso, mas os ativistas climáticos sabem que essa taxação e essa manutenção da forma de viver é injusta, só não conseguiram ainda uma forma adequada de trazer essas pessoas afetadas para a luta e colocá-las como reais protagonistas no combate à crise climática. O motivo? A sobrevivência é mais urgente.

O coletivo não é prioridade para quem sente na pele as marcas das consequências trazidas pelas alterações do clima.

A dificuldade de se mensurar a crise climática é exatamente essa: ela está difusa por todas as partes do mundo causando problemas ambientais que refletem na saúde, na moradia, no transporte, no bem estar e que por isso, se camuflam nos problemas históricos de como a sociedade tem vivido até então.

O denominador comum da crise climática é o modelo de desenvolvimento predatório que criamos e nos tornamos viciados, e que se maquia em nuances. Não é como a pandemia do COVID-19 que estamos vivendo, por exemplo, que sabemos exatamente o que está causando e mais importante, sabemos o que é necessário para combatê-lo: uma vacina. A crise climática não será resolvida com uma vacina, ela precisa ser combatida com um conjunto de ações que repensem a forma como construímos tudo até então e coloque a sociedade mundial em posição de refazer isso.

Não existe mais um jeito normal de viver, é preciso encontrar o novo normal, e não é uma pandemia que nos dará isso.

Enquanto não considerarmos que isso é uma necessidade, os que estão em melhores situações vão continuar se adaptando mais rapidamente às mudanças do clima do que os mais vulneráveis, que vão seguir sem ter motivos para criar mudanças sistemáticas. O crescimento não deve ser renunciado, ele precisa ser revisto para uma forma que seja de fato sustentável e não mascare exploração e manutenção desse sistema com objetivos coloridos e utópicos para quem não tem acesso a recursos e, principalmente a medidas de financiamento climático².

Sem políticas para disseminar alternativas para quem de fato precisa se adaptar com urgência, a inovação que tanto se fala vai ser inútil.

Tecnologia precisa ser utilizada, mas, as nuances de quem de fato sabe viver em equilíbrio precisa ser o combustível nessa jornada de mudanças. Considerar soluções baseadas na natureza com os povos originários é por si só uma importante forma de inovar e, principalmente, diminuir a resistência em relação às políticas combativas à crise climática.

Os efeitos da crise climática são, a esse ponto, quase que previsíveis, enquanto que as soluções jamais o serão. Essa diversidade para a mensuração da crise climática nos coloca em uma situação de ter esperança que a partir de agora: a cooperação como nunca se viu antes precisa começar a agir para reorganizar de forma radical o mundo.

Olhar o mundo de novo e enxergar onde estão os recursos, planejar a produção de alimentos e energia em torno disso e em torno das populações. Nesta geração e na forma como vivemos agora mesmo estamos criando o clima para o planeta do futuro; por mais utópico que pareça atingir as metas de emissão, vai ser muito mais difícil se esse problema ficar para as próximas gerações. Com cooperação, ousadia e não deixando ninguém para trás conseguiremos fazê-lo.

Igor Vieira é colunista da AJN. Texto originalmente publicado na Agência Jovem em 18 de junho de 2020.

Agenda de Desenvolvimento Sustentável para 2030

Já parou para pensar em como seria o mundo ideal? Esse mundo sustentável para todos já foi imaginado e chegou a hora de construirmos ações concretas.

Por Amanda Costa

Olá galerinha, tudo bombom?

Eu sei que nosso mundo está uma loucura, muitas bad vibes estão rolando, mas quero te convidar a sonhar com um mundo melhor. Você já parou para pensar em como seria o mundo ideal?

 

Achou o exercício difícil? Espera, vou te ajudar: que tal um mundo fundamentado na paz, onde as pessoas são valorizadas, parcerias são feitas com o objetivo de cuidar do planeta e a prosperidade é uma simples consequência de um sistema justo, colaborativo e harmônico?

Talvez você esteja pensando:

Wowwwwwww, que coisa linda! Será que esse mundo é possível?

Acredite, caro leitor, não é mera utopia! Essas são as diretrizes dos 5Ps da Sustentabilidade, que nasceram com um plano baphônico dos Estados, empresas e sociedade civil para alcançar um desenvolvimento sustentável “sem deixar ninguém para trás.” A discussão ocorreu em setembro de 2015, quando 193 países membros da ONU adotaram uma nova política global: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Através de um documento ambicioso, visionário e ousado, foram adotados 17 Objetivos, 169 metas e 231 indicadores com o principal objetivo de possibilitar um desenvolvimento sustentável para T-O-D-A-S as nações, a partir da adoção de políticas públicas, medidas econômicas e ações sociais que viabilizassem a concretização da Agenda 2030.

Galera, sustentabilidade não se restringe ao pessuhippie, que fala “#Gratidão” ao invés de “obrigado”, frequenta restaurantes veggies e curte abraçar uma árvore. Além da dimensão ambiental, os aspectos social e econômico também estão envolvidos, sendo utilizados a partir da ótica do tripé de desenvolvimento sustentável, com o intuito de construir um mundo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável.

 

Viiiiiiu que o mundo ideal já foi imaginado? Agora precisamos arregaçar as mangas e construir essa realidade. A agenda é simples, mas os desafios são complexos: todo esse debate engloba questões de alcance sistêmico, como financiamento para o desenvolvimento, transferência de tecnologia, capacitação técnica e comércio internacional.

Dentro desse cenário abstrato, os recursos financeiros e o engajamento social foram caracterizados como as questões mais importantes da Agenda 2030. Para que os ODS sejam implementados com sucesso, é necessário mobilizar recursos nacionais, procurar medidas de financiamento público internacional, engajar a sociedade civil, assegurar a participação assídua do setor empresarial e disponibilizar o fornecimento de dados para que o acompanhamento das metas estabelecidas seja realizado com sucesso.

Querides, bora ser diretes: precisamos urgentemente criar ferramentas e mecanismos que possibilitem o engajamento tanto de crianças, como de jovens e adultos, num trabalho conjunto entre governo, sociedade civil e empresas. Esse rolê é tipo “ninguém solta a mão de ninguém e bora juntes construir um novo mundo.”

 

Apesar do Brasil passar por momentos de instabilidade política que dificultaram a priorização da agenda, está na hora de tampar o buracão deixado pelo governo federal. Desse modo, grupos organizados da sociedade civil e alguns agentes empresariais são os agentes que estão possibilitando o alcance da Agenda 2030!

Agora eu te pergunto: o que aprendemos com essa situação?

Uma coisa é fato: não podemos ficar parados aguardando a solução! Também é o nosso papel (xòfens lacradores que desejam ser parte da solução) buscar ferramentas criativas para divulgar os ODS, mobilizar atores chaves da sociedade e incidir politicamente nos níveis local, nacional e internacional para assegurar que o acordo seja cumprido.

Bora territorializar essa agenda! Vamos adotar atividades sustentáveis no nosso dia a dia, promover debates (explica para o crush o que são os ODS) e puxar ações arrasadoras para transbordar esse discurso. Somos agentes de transformação e estamos dispostos a construir o mundo dos nossos sonhos! 🙂

 

Para entender a urgência da crise climática

A crise climática não é sobre temperatura, a crise climática é essencialmente sobre gente. Pra fazer o que precisa ser feito, é necessário estabelecer metas transformadoras.

Por Igor Vieira

A crise climática não é sobre temperatura, ainda assim, no mundo inteiro continua a ser tratada como um assunto exclusivo de aquecimento e derretimento de geleiras quando, na verdade, a crise climática é essencialmente sobre gente. Esta crise, que chamo de transversal, serve como um lembrete de que pra fazer todo o trabalho que precisa ser feito, é necessário apertar bem os cintos e estabelecer metas ambiciosas e transformadoras.

Quando falamos sobre resolver a crise climática, falamos sobre integridade e franqueza, da forma mais dura e combativa: transformar tudo que existe e adaptar a forma que se vive no planeta. Em palavras miúdas, pressionar o planeta com as emissões de carbono no ritmo que temos vai continuar a nos colocar em cenários irreversíveis que obrigarão a humanidade a se adaptar até chegar num ponto impossível de se controlar. Eis aqui a grande crise para as pessoas.

Há quase duas décadas o mundo começou a apresentar certa esperança com acordos climáticos propostos. Anos se passaram e o planeta se encontra numa grande crise política que entrava a ação de políticas efetivas de participação social e mudança sistemática na forma que se lida socioeconomicamente com o meio ambiente. Por trás disso, há interesses poderosos de indústrias, como a dos combustíveis fósseis que historicamente vem financiando campanhas de ofuscamento e incentivo à descrença a crise climática.

A maior parte da sociedade global ainda olha para tudo o que tem acesso, vivem e sentem em relação ao clima de forma não prioritária porque, na maior parte do tempo, há um confronto com projetos que esfregam nas nossas caras que existem problemas mais graves e que precisam de mais atenção individual para resolvê-los, nos tirando do foco do problema real e nos separando da consciência de que a crise climática perpassa pela existência humana.

A urgência das pessoas é sobreviver

Enquanto isso, refugiados, famílias pelo mundo inteiro retiradas de suas casas, populações em periferias urbanas, povos originários, povos indígenas, estão em grande vulnerabilidade e são as pessoas mais atingidas pela crise climática. Esses são os verdadeiros rostos da crise e não possuem tempo para disse-me-disse de quem é o culpado por tudo isso e quem cobra sem apontar soluções.

A urgência das pessoas é sobreviver. É o instinto natural primeiro da humanidade, a sobrevivência, e é por ela que pessoa em situação de vulnerabilidade tem lutado nas últimas décadas. A crise climática é, portanto, um dos sintomas da desconexão que criamos com o nosso modelo de desenvolvimento que engole as pessoas e explora os recursos naturais de forma desenfreada.

Quando pensamos em resolver o problema sem atacar o predador, vamos continuar fazendo adaptação e mitigação por fazer e assim, nunca vamos atingir o coração do monstro.

As diversas camadas e nuances da crise climática

Há uma especificidade sobre a crise climática: a diversidade de camadas e nuances na forma em que ela se apresenta. As mudanças do clima como uma dessas camadas neste cenário de crise podem catalisar formas de participação política, social e econômica. A sociedade global tem passado por choques tremendos causados por desarranjos econômicos, desastres naturais associados a efeitos climáticos extremos, invasões territoriais e até guerras.

Historicamente, as diferentes sociedades encontraram formas de se recuperar desses eventos perturbadores e temos todos os sinais entregues de que com a crise climática não vai ser diferente. O que difere aqui é que (pra população comum) é difícil mensurar exatamente de onde vem ou o que está por trás da crise climática.

É quase que um inimigo invisível: a guerras possuem uma motivação, invasões de território vem com alguém por trás, desastres naturais têm uma causa. Porém não há um só diagnóstico para a causa da crise climática e isso faz com que a crise de pessoas se intensifique. Fica difícil lutar contra ela num sistema que te confunde o tempo todo sobre as causas reais e quando o conhecimento científico que a comprova não é traduzido de forma acessível para os mais afetados.

A dificuldade de tornar a ciência do clima acessível à base aumenta a dificuldade de participação popular no processo de construção de mudança de paradigma. É necessário trazer a diversidade de quem está na linha de frente para solucionar problemas que acontecem todos os dias, por todos os lugares com gente comum como você e eu.

Para além dos acordos internacionais, é preciso identificar a importância das pessoas, colocando-as como parte resolutora dos problemas causados pela crise. Isso já está acontecendo on ground em vários lugares do mundo, de forma orgânica através do já falado instinto de sobrevivência humana, entretanto, isso precisa começar a ser colocado em consideração nos espaços de tomada de decisão formais pelo mundo todo.

Pessoas como agentes de transformação e impacto recebendo recursos de quem inflamou/inflama a crise climática para pôr em prática, por meio de suas culturas e nuances, soluções para os problemas causados pela alteração do clima – Quem polui e destrói tem a obrigação de investir na solução da crise.

É hora de combater o sistema

É tempo de considerar a atuação no combate ao sistema que gerou a crise climática atropelando pessoas, considerar a atuação numa direção que acreditamos sem responder ou perder tempo com a comunicação violenta que nos provoca diariamente.

Articular pessoas para que conheçam mais sobre advocacy*, mobilizando estratégias que furem a bolha ambientalista que vivemos com inovação. É tempo de considerar escuta, de valorizar o caminho que chegamos e mudar o que entendemos como sustentável. Isso tudo porque quem está no contra fluxo do sistema também faz mobilização social, e precisamos disso para construir uma nova economia que gere justiça climática.

Em termos de história do planeta todos os marcos ambientais, principalmente os negativos, foram associados à transformação econômica. É tempo de trabalhar novas formas de comunicar e fazer advocacy, tornando palpável a ideia dessa nova forma de viver o mundo com pontos de convergência que priorizem a pauta socioambiental. Assim estaremos priorizando as pessoas e levando todos e todas junto.

*Advocacy – Prática de cidadania ativa, consiste em argumentar e defender causas, objetivos e/ou direitos. Podendo em muitos casos influenciar a criação/ajuste de políticas públicas e tomadas de decisão. O exercício do advocacy pode auxiliar de forma direta na diminuição de desigualdades e injustiças promovendo mudanças sistemáticas.

Igor Vieira é pernambucano, engenheiro ambiental, especialista em oceanografia e mestre em engenharia ambiental. Articula sobre mudanças climáticas, pesquisador de água e saneamento. Atualmente é coordenador regional no WIL Brasil by Waterlution.

Imagem: Fridays For Future

Educação ambiental em foco: projetos piloto da ECA em Belém

Dentro da programação da Escola de Cidadania para Adolescentes, o meio ambiente foi trabalhado em oficina temática que contou com a apresentação do trabalho do coletivo Ame o Tucunduba, que luta pela gestão da bacia hidrográfica formada pelo rio.

Durante todos os encontros, ficou evidente a relação importante entre afetividades e o meio ambiente na vida das e dos adolescentes. A partir da percepção do potencial para trabalhar o tema, foi construído um projeto piloto sobre educação ambiental, desenvolvido na UNIPOP e aplicado com turmas de duas escolas públicas periféricas da região metropolitana de Belém.

A primeira turma do projeto piloto foi formada por alunas e alunos de séries do Ensino Fundamental II da escola Nelso Ribeiro, no bairro do Telégrafo – um espaço escolhido por sugestão de adolescentes integrantes da ECA Belém que foram alunos da escola. O projeto foi composto por uma roda de conversa sobre meio ambiente, compostagem e revitalização de espaços verdes, seguida da aplicação de um exercício prático de ação coletiva: a confecção de lixeiras seletivas para o espaço da escola.

Participantes do projeto na escola Nelso Ribeiro, no bairro do Telégrafo

Para a segunda turma do projeto piloto foi selecionada a Escola Jarbas Passarinho, no bairro Costa e Silva. Lá, além das atividades propostas, nosso projeto contou com a parceria de membros do corpo docente e de uma aluna integrante do projeto Aimeê Bordalo, que atuaram na mobilização e na articulação da turma em uma atividade sobre os desafios de conviver com a diversidade no âmbito escolar.

Participantes do projeto, alunas e alunos da Escola Jarbas Passarinho, no bairro Costa e Silva

Na reta final, foi possível agregar os dois projetos com a aplicação de mais um exercício de ação coletiva: as turmas atuaram, junto com moradores da região, na revitalização de um espaço no Bairro do Benguí, com plantio de mudas e grafitagem nos muro da área.

Estes planos de atividades foram desenhados a partir da identificação da ausência de políticas públicas efetivas voltadas para o meio ambiente nos bairros, um problema alarmante na região metropolitana de Belém: questões como o descarte correto de lixo, a falta de incentivo à educação ambiental, a ausência de coleta periódica de lixo comum e da coleta seletiva nas regiões periféricas, que promovem um impacto enorme na saúde e na relação das juventudes com seus territórios.

Durante a avaliação do percurso do projeto, as e os adolescentes compartilharam falas sobre como foi gratificante participar dos exercícios em comunidade, ressaltando a importância da tomada de consciência sobre o meio ambiente e da construção e manutenção coletiva de espaços de convivência nas suas periferias.

ECA organiza oficinas sobre meio ambiente e mudanças climáticas para adolescentes

Para discutir meio ambiente e a crise climática que nosso planeta vem atravessando, foram preparadas duas oficinas com as alunas e alunos da Escola de Cidadania para Adolescentes em São Paulo: uma em sala, com dinâmicas e debates, e a segunda com visitas a espaços de organizações que trabalham questões ambientais na cidade.

No primeiro encontro sobre meio ambiente, foi aplicada a dinâmica da ‘sala desarrumada’: as e os jovens foram recebidos numa sala desorganizada, intencionalmente. A primeira parte do encontro – a retomada dos conteúdos dos encontros anteriores – foi realizada neste ambiente, sem maiores explicações.

Em seguida, a turma foi provocada a falar sobre as condições da sala e sobre a relação que as pessoas criam com os espaços que ocupam, inclusive os coletivos. Foi chamada a atenção para a importância de todos que ocupam e dividem espaços serem corresponsáveis pela sua manutenção, e os adolescentes puderam a refletir sobre a relação entre estas reflexões e o meio ambiente.

Entrando no tema central, foi exibida para a turma a animação “Man” (2012), do ilustrador e animador inglês Steve Cutts, que mostra o relacionamento destrutivo do homem com o meio ambiente, seguida de um debate sobre a obra.

 

 

Para aproximar ainda mais os debates à realidade da turma, foi exibida a vídeo-aula sobre a questão ambiental preparada para a ECA. A partir desta aula, as e os jovens conversaram sobre a importância da atuação de todos na mudança de atitude e no comprometimento em adotar práticas que transformem o modo como a humanidade se relaciona com o planeta.

 

 

Para as visitas aos locais de trabalho e ativismo ambiental, as alunas e alunos dividiram-se em grupos e pesquisaram sobre uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis no centro da cidade e o projeto de horta comunitária na zona sul de São Paulo, anotando dúvidas e preparando perguntas e dividindo entre si as tarefas que formariam o registro educomunicativo da atividade.