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Rapidinhas

Sobre Racismo ambiental

7 de julho de 2020

Pesquisa realizada nos Estados Unidos comprova que as mudanças climáticas estão impactando a vida das mulheres grávidas, principalmente negras.

Por Gabriela Baesse

Os impactos das mudanças climáticas estão sendo sentidos por cada um de nós em todos os lugares do mundo, algumas vezes de formas mais concretas como a falta de água, chuvas intensas, aumento da temperatura (o termômetro chegou a 38º na Sibéria semana passada!), poluição do ar, elevação do nível do mar e também de forma sútil, como com o uso excessivo de agrotóxicos e na nossa saúde.

Essas consequências são vividas de diferentes formas. Afinal de contas, cada um tem uma realidade própria que vai impactar na sua visão de mundo e nas dificuldades que enfrenta ao longo da vida. Alguns fatores que afetam isso são: o lugar em que você nasceu (cidade ou campo, centro ou periferia), seu gênero (homem ou mulher, trans ou cis), sua identificação étnico-racial (indígena, negro, branco ou amarelo), sua condição financeira e por aí vai.

Uma pesquisa saída agora do forno (publicada no dia 18 de junho de 2020) na JAMA Network, mostrou que as mudanças climáticas têm um impacto negativo para as gestantes e seus bebês. Com a revisão de vários estudos sobre o tema, foi possível observar mais de 32 milhões de nascimentos nos EUA, e o que eles revelaram? Que mulheres sujeitas a poluição do ar e expostas a temperaturas mais altas, têm mais chance de terem bebês prematuros, com baixo peso e natimortos (morte do feto após 20 semanas de gestação).

O trabalho também mostra que essas piores condições de saúde têm cor e endereço: afetam principalmente mulheres negras e periféricas. É mais um fator que desampara quem já está em uma situação de maior vulnerabilidade.

Trabalhadoras em Moçambique, África. Foto: Paula Santoro.

Além de terem piores condições socioeconômicas, as mulheres negras têm mais dificuldade para acessar serviços de saúde, assistência pré-natal, ao parto, sofrem mais violência obstétrica do que brancas, e segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2018) mais de 60% das mulheres mortas durante o parto são negras.

Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna e a Vida das Jovens Negras / Foto: Reprodução – Jornal Comunicação UFPR

Como vimos, a discriminação racial está presente na saúde, mas igualmente na política ambiental e isso tem nome: racismo ambiental. Ele faz com que a população negra (e outros grupos étnico-raciais, como os indígenas) sofram os efeitos mais indignos da degradação ambiental.

Brasília – Índios do Xingu fazem protesto durante coletiva da presidenta do Ibama, Marilene Ramos, sobre o enchimento do reservatório da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Quanto mais esmiuçamos o assunto, mas vemos que a discriminação racial está em todos os lugares; ela pode ter uma roupagem mais direta, com crimes de ódio ou xingamentos, mas pode vir tentando se disfarçar, como através de abordagens mais violentas de polícias contra pessoas negras (João Pedro, presente! Agatha, presente!) e a falta de pessoas negras e indígenas em cargos de chefia ou nas universidades.

A pesquisa também traz à tona a questão de gênero, reforçando que as mulheres são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de serem quem menos contribui para isso, tendo em vista que as desigualdades econômicas fazem com que menos mulheres tenham um consumo que impacte nas mudanças climáticas.

Nós mulheres, enfrentamos desafios particulares na crise ambiental.

Além da questão reprodutiva, mulheres estão mais propensas a morrer em desastres ambientais, têm menor controle e acesso a recursos vitais como água, energia e moradia e somos menos representadas nas políticas públicas.

Atualmente o congresso federal brasileiro tem apenas 15,15% de mulheres e apenas 2,69% de mulheres negras, pardas ou indígenas. Como os problemas das mulheres, negras e indígenas vão ser pauta prioritária se o poder ainda está concentrado em homens brancos, velhos e cisgênero?

Para isso, precisamos de mais espaços para a participação ampla de toda sociedade, é urgente fornecer condições para termos cada vez mais mulheres, negras, indígenas e jovens participando da política, ocupando espaços de liderança em organizações públicas e privadas e tomando as decisões.

A pesquisa apresentada faz refletir sobre diversas temáticas como mudanças climáticas, saúde, gênero e raça. Como vimos no início, cada experiência é única, por isso precisamos assegurar a pluralidade de visões e você pode contribuir para isso ouvindo, divulgando e defendendo os direitos das gestantes, mulheres, negras e indígenas.

Gabriela Baesse é colunista da Agência Jovem de Notícias

Imagem destacada: Canal Preto / Reprodução Youtube