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Os esquecidos da saúde mental na pandemia e nas políticas públicas

Como a falta de ações afirmativas afeta a saúde mental da população brasileira, em especial de jovens e mulheres, deixando-as esquecidas às margens dos problemas comportamentais e sociais.

Por Mariana Nunes Santos Gomes

Ações afirmativas acerca da saúde mental são esquecidas e mal desenvolvidas nos pacotes das políticas públicas. Os esquecidos da saúde mental são as grandes parcelas de jovens e mulheres que, durante a pandemia, desenvolveram transtornos cognitivos e comportamentais no isolamento social.

Segundo a matéria da Folha de São Paulo da colunista Cláudia Collucci: Jovens e mulheres são os mais afetados por depressão e ansiedade na pandemia, Pesquisa Datafolha mostra que 44% dos brasileiros enfrentam problemas emocionais; busca no Google por ansiedade bate recorde, pesquisas demonstram o aumento dos problemas e a falta de serviços nas comunidades e grupos mais vulneráveis.

De acordo com a matéria, a maioria das unidades de saúde no Brasil não possuem atendimentos especializados em saúde emocional e o medo do preconceito intensifica o distanciamento à procura dos tratamentos.

Assim, por um lado temos jovens e mulheres sofrendo com os seus conflitos socioemocionais e, do outro lado, temos psicólogos fora do mercado de trabalho incluídos nas estatísticas de brasileiros com ansiedade e depressão. Será que há uma solução para esta problemática?

Estigmas

Durante muitos anos, a saúde mental foi referenciada à tratamento de “loucos” e internações em “hospícios” denominados de manicômios. Esses antigos modelos de atendimento se dispuseram da segregação social marcada pela falta de acesso a direitos humanos básicos e pela hostilidade aos pacientes, que eram internados nesses lugares.

As políticas de saúde mental desses espaços foram revogadas, dando vez aos Centros de Atenção Psicossocial e às casas de acolhimento.

Quem não lembra do livro o Alienista, de Machado de Assis?

A sociedade utilizava de internações compulsórias para oprimir, silenciar, diminuir a autoestima e a estabilidade emocional de mulheres e jovens, inclusive as portadoras de deficiências, distanciando-os das relações sociais e fortalecendo o preconceito, referente aos cuidados da mente humana.

Autoestima e Soluções

Com a pandemia, estamos presenciando o reconhecimento da existência de problemas socioemocionais e a busca por entender as raízes deles.

As mulheres vêm tendo sua autoestima muito afetada pela dinâmica das redes sociais, e o uso excessivo desses canais durante a pandemia aumenta a baixa autoestima, principalmente entre meninas e mulheres de 15 a 29 anos.

As barreiras dos estigmas e da falta de ações governamentais, levam as pessoas aos esgotamentos emocionais. Diante desse contexto, se faz necessária a criação de novos centros de apoio, a adoção de novos modelos de vida e atribuições trabalhistas que prezem a saúde física e emocional com a presença de profissionais adequados como psicólogos e assistentes sociais.

É necessário que nossa sociedade se adapte às novas formas de vida pós-pandemia através do oferecimento de condições dignas às mulheres e jovens, autoestima social e qualidade de vida, adentrando nas comunidades e grupos periféricos e coletivos para fortalecer as redes de apoio e territórios da saúde mental.

 

Quando ir pra rua é perigoso, o ativismo online pode ser a resposta

A experiência e os desafios com plataformas e estratégias de ativismo online em tempos de isolamento social onde ocupar ruas pode não ser o mais estratégico (e seguro).

Por João Henrique Alves Cerqueira

Não chegamos nem na metade da atual gestão presidencial e todos os dias lidamos com a proximidade cada vez maior de chegar no total colapso civilizatório. A sobreposição de crises (segurança pública, econômica, sanitária, política e ambiental) que estamos vivendo já seria um desafio imenso para qualquer liderança, mas o nosso chefe de estado tem aproveitado essas crises para alimentar a paranoia de sua base de apoio ao mesmo tempo em que cria conflito entre as instituições e intensifica a polarização ideológica no país.

Enquanto isso, caminhamos a passos largos para ser o pior país do mundo a lidar com a pandemia do novo coronavírus, com milhares de mortes de brasileiros que poderiam ter sido evitadas.

Com todos os elementos postos para fazer com que as ruas voltem a ser palco das manifestações, as recomendações sanitárias orientam que não existe uma forma segura de fazer isso acontecer.

Negar essas orientações é aumentar a chance de contágio pelo novo coronavírus, que por sua vez impacta em relação desproporcional pessoas que já estão em situação de maior vulnerabilidade social.

Mas quando ir para as ruas pode não ser estratégico (ou seguro), como podemos canalizar a urgência e necessidade de se manifestar e incidir nos processos de tomada de decisão do nosso país?

A resposta vem de movimentos e organizações que já estão utilizando as redes virtuais como plataforma de incidência política muito tempo antes da pandemia limitar as possibilidades de fazer isso. É o caso da Rede Nossas – um laboratório de ativismo que desde 2011 associa os espaços de participação institucional, a mobilização criativa e as plataformas virtuais para incidir em políticas públicas.

“A experiência da incidência online tem sido desafiadora, em proporções muito maiores e com necessidade de reinvenção e uso de táticas criativas de forma mais intensa do que antes da pandemia.” conta Ully Ribeiro, moradora da zona oeste do Rio de Janeiro, gestora pública pela UFRJ e mobilizadora no Meu Rio / Rede Nossas:

Nesses quase três meses de isolamento, foram 5 campanhas grandes em nível federal, destaco a campanha pelo adiamento do Enem, Sem Aula, Sem Enem, articulado com diversas organizações, coletivos e cursinhos comunitários na qual precisamos, mais uma vez, inovar para conseguir pautar um projeto na Câmara dos Deputados. Por entender que precisávamos inovar nas táticas para pressionar os parlamentares, automatizamos a criação de páginas de pressão para que cada escola, instituto, colégio, cursinho pudesse criar sua própria página para pressionar, via e-mail, os deputados federais do seu estado. Com um pedido mais centralizado e com recorte estadual, conseguimos fazer com que diferentes deputados se manifestassem favoravelmente ao adiamento do Enem. Poucos dias depois, o senado colocou o projeto em votação e o Inep se pronunciou pelo adiamento da prova.

Ully conta ainda que, entre todos os momentos delicados que vivemos, se surpreendeu positivamente com o senso de solidariedade das pessoas em um crowdfunding:

Dia 9 de junho colocamos no ar a campanha #4GparaEstudar com a meta inicial de arrecadar 100 mil reais para comprar pacotes de internet à alunos periféricos de cursinhos parceiros, e em 24 horas arrecadamos 200 mil reais. Mas claro, é sempre importante trazer a reflexão do quanto essas pessoas e toda a sociedade que doam seus dinheiros e investem em redes de solidariedade, estariam dispostas a concordar com mais políticas públicas de distribuição de renda.

Para começar a se organizar para incidir politicamente online, Ully sugere um primeiro passo: o da busca ativa:

Estamos num momento de caos político, social, sanitário. Temos inúmeras manifestações antirracistas rolando, muitas redes de apoio psicológico acontecendo, secundaristas mostrando, mais uma vez, como são mobilizados e engajados e quem não tá acompanhando isso, precisa fazê-lo! Não dá mais pra só dizer que não sabia, que não ouviu falar ou não leu sobre. Siga produtores de conteúdo negro, mulheres, favelados, se inteire do que tá rolando, do que as organizações e movimentos estão fazendo, e principalmente, como você pode ajudar. Seja com divulgação, doação de alimentos/materiais, grana, assinando petições, fazendo pressões nas redes sociais de tomadores de decisão. Toda ação é válida porque tudo é política.

Equipe ‘Meu Rio’ / Rede Nossas

As redes virtuais já são um dos principais campos de debate na política – seja nas sessões legislativas por videoconferência, seja nas fakenews disparadas nos zaps pelos país.

É essencial entender e qualificar o seu uso para que essas plataformas alcancem seu potencial para ampliar o acesso à participação política, ainda mais em um período onde a mobilização convencional nas ruas do país se apresenta como perigosa e pouco estratégica – pelo menos para o lado do espectro ideológico que acredita na ciência, nos dados, na medicina e que a terra não é plana.

 

João Henrique Alves Cerqueira é colunista da Agência Jovem de Notícias.

 

Educação ambiental em foco: projetos piloto da ECA em Belém

Dentro da programação da Escola de Cidadania para Adolescentes, o meio ambiente foi trabalhado em oficina temática que contou com a apresentação do trabalho do coletivo Ame o Tucunduba, que luta pela gestão da bacia hidrográfica formada pelo rio.

Durante todos os encontros, ficou evidente a relação importante entre afetividades e o meio ambiente na vida das e dos adolescentes. A partir da percepção do potencial para trabalhar o tema, foi construído um projeto piloto sobre educação ambiental, desenvolvido na UNIPOP e aplicado com turmas de duas escolas públicas periféricas da região metropolitana de Belém.

A primeira turma do projeto piloto foi formada por alunas e alunos de séries do Ensino Fundamental II da escola Nelso Ribeiro, no bairro do Telégrafo – um espaço escolhido por sugestão de adolescentes integrantes da ECA Belém que foram alunos da escola. O projeto foi composto por uma roda de conversa sobre meio ambiente, compostagem e revitalização de espaços verdes, seguida da aplicação de um exercício prático de ação coletiva: a confecção de lixeiras seletivas para o espaço da escola.

Participantes do projeto na escola Nelso Ribeiro, no bairro do Telégrafo

Para a segunda turma do projeto piloto foi selecionada a Escola Jarbas Passarinho, no bairro Costa e Silva. Lá, além das atividades propostas, nosso projeto contou com a parceria de membros do corpo docente e de uma aluna integrante do projeto Aimeê Bordalo, que atuaram na mobilização e na articulação da turma em uma atividade sobre os desafios de conviver com a diversidade no âmbito escolar.

Participantes do projeto, alunas e alunos da Escola Jarbas Passarinho, no bairro Costa e Silva

Na reta final, foi possível agregar os dois projetos com a aplicação de mais um exercício de ação coletiva: as turmas atuaram, junto com moradores da região, na revitalização de um espaço no Bairro do Benguí, com plantio de mudas e grafitagem nos muro da área.

Estes planos de atividades foram desenhados a partir da identificação da ausência de políticas públicas efetivas voltadas para o meio ambiente nos bairros, um problema alarmante na região metropolitana de Belém: questões como o descarte correto de lixo, a falta de incentivo à educação ambiental, a ausência de coleta periódica de lixo comum e da coleta seletiva nas regiões periféricas, que promovem um impacto enorme na saúde e na relação das juventudes com seus territórios.

Durante a avaliação do percurso do projeto, as e os adolescentes compartilharam falas sobre como foi gratificante participar dos exercícios em comunidade, ressaltando a importância da tomada de consciência sobre o meio ambiente e da construção e manutenção coletiva de espaços de convivência nas suas periferias.

Democracia, Direitos Humanos, Juventude, Comunicação: como foram as oficinas temáticas da ECA em Bélem

O que é democracia? O que são direitos humanos? O que é o direito à comunicação? O que é ser adolescente e jovem na nossa sociedade? Como participar de movimentos sociais? Qual a relação de tudo isso com o lugar onde vivemos?

Essas e outras perguntas que surgem na cabeça de adolescentes e jovens foram temas de oficinas da Escola de Cidadania para Adolescentes em Belém.

Na oficina temática “Democracia”, perguntas sobre o exercício pleno das liberdades democráticas instigaram as e os adolescentes a pontuar, com o uso de diversas linguagens, a abrangência do conceito em ações cotidianas, vistas em uma praça.

Oficina temática “Democracia”

Já sob o tema “Direitos Humanos”, o exercício envolveu a reflexão e a troca de impressões a partir da observação do quadro Criança Morta, de Cândido Portinari. Cada adolescente foi chamado a compartilhar os sentimentos que a pintura expressava para si e qual a relação entre o contexto retratado na obra – a escassez de água e a fome – com suas vivências pessoais.

Criança Morta, de Cândido Portinari/Reprodução MASP

Nesta oficina também foram utilizadas técnicas de produção de fanzines para colocar em debate temas como o direito à vida, liberdade religiosa e o direito à liberdade de expressão, entre outras questões.

Para apresentar às e aos adolescentes do projeto um exemplo prático de mobilização social, foi apresentado o trabalho do coletivo Ame o Tucunduba, que luta pela garantia de gestão da Bacia do Rio Tucunduba. Nessa oficina foi possível colocar em debate grandes questões do meio ambiente e exemplificar como a mobilização social é importante para gerar mudança e sensação de pertencimento aos espaços periféricos que ocupam.

Oficina temática “Meio Ambiente”

A roda de conversa sobre ser adolescente e jovem contou com a participação de uma jovem ativista do coletivo A Liga, que falou sobre sua experiência como voluntária na periferia em que mora, de um jovem participante do projeto Rede Paraense de Pessoas Trans, enfatizando a importância do local de fala e representatividade da população trans em qualquer espaço, e um adolescente que integra a equipe da Agência de Notícias – JCA, falando sobre a importância da participação em atividades sociais para o crescimento pessoal e intelectual das juventudes. Por fim, um jovem ativista de um grupo local da Anistia Internacional Brasil compartilhou seu relato sobre a importância de intercâmbio de ideias e trocas dos movimentos sociais para a manutenção e fortalecimento das lutas.

Roda de conversa ser adolescente e jovem/mobilização em movimentos sociais

No tema Comunicação/Educomunicação, o ponto de partida foi o direito universal que todos têm de se comunicar. A apresentação de produções protagonizadas por jovens somadas à publicações em redes sociais estimularam o compartilhamento de conteúdo sobre os diversos temas estudados, demonstrando a importância de ações que reforcem a liberdade e a pluralidade da mídia, além de exemplificar como a adoção de práticas educomunicativas têm potencial para gerar grande impacto na promoção do direito humano à comunicação.

Oficina temática “Comunicação/Educomunicação”

 

Integração e mapeamento afetivo: primeira etapa da ECA Belém

Após a seleção das e dos jovens oriundos de diversos bairros periféricos da região metropolitana de Belém, foram organizadas duas atividades que tiveram o objetivo maior de integrar estes adolescentes e promover um mapeamento afetivo sobre realidades e pertencimentos pessoais e sociais, preparando-os para os conteúdos das oficinas da Escola de Cidadania.

Atividade de integração da ECA Belém

Em uma roda de conversa de apresentação individual, as e os adolescentes puderam trocar ideias e conhecer um pouco sobre suas trajetórias. O eixo temático escolhido para essa atividade passou por estabelecer significados para termos como escola, cidadania e a adolescência.

Essa construção coletiva trouxe informações importantes sobre como aquela juventude desejava ser o espaço físico da escola e seu lugar enquanto adolescente nas suas comunidades, bem como o desejo por acesso a espaços de troca e convivência social amigáveis e didáticos.

A segunda atividade buscou criar um mapeamento afetivo entre as e os adolescentes inscritos no percurso da Escola de Cidadania, num movimento de reflexão sobre suas diversas realidades periféricas. Ao dividi-los de acordo com suas regiões geográficas, foi possível facilitar suas percepções sobre afetividades e interações sociais.

Atividade de mapeamento afetivo

Nesta etapa, a troca de ideias evidenciou problemas estruturais comuns às periferias não só de Belém como de todo o território nacional: a falta de equipamentos públicos plurais e acessíveis dificulta a manutenção das afetividades, as relações sociais e a permanência das e dos adolescentes em seus territórios.

Competências para a vida: oficinas discutem sonhos, aprendizados, cidadania e direitos das juventudes

O cronograma de encontros da Escola de Cidadania para Adolescentes foi preparado para abordar uma série de temas essenciais para quem está nessa fase da vida cheia de descobertas e sonhos – democracia, direitos humanos, a participação política, a comunicação, o meio ambiente e o significado de ser adolescente no Brasil.

Todos os temas foram trabalhados buscando aproximar os conceitos da realidade das e dos jovens, suas vivências e afinidades, de modo que os conhecimentos debatidos em cada encontro pudessem ser traduzidos em ideias e ações práticas pela turma em suas relações sociais e espaços privados e coletivos.

Com base no Guia Competências para a vida – trilhando caminhos de cidadania, desenvolvido pelo Unicef para auxiliar educadores e pessoas que trabalham com o fortalecimento de meninas e meninos na adolescência e “sugere uma série de temas traduzidos em competências, que podem contribuir para que a adolescência seja vivenciada de forma plena, com garantia de acesso a direitos e com a participação desse público em processos decisórios”, a equipe de educomunicadores da Viração elaborou três encontros com o objetivo de trabalhar algumas destas competências, explorando os sonhos e projetos de vida das e dos adolescentes.

Na primeira parte do encontro ‘Sonhos, propósitos e objetivos’, a partir da pergunta chave “Quais sonhos carrego comigo?”, a equipe de educadores buscou despertar na turma reflexões sobre o uso do pensamento crítico e criativo, o senso de responsabilidade, a autonomia e a resiliência.

Para começar, foram aplicados exercícios de reconhecimento do espaço, de si e do outro. Em roda, as e os jovens foram convidados a ouvir a poesia Milionário do Sonho, na voz de Emicida e Elisa Lucinda.

 

 

Logo depois, cada jovem recebeu quatro balões de cores diferentes e quatro pedaços de papel, correspondendo a quatro categorias de sonho: sonho afetivo, sonho profissional, sonho social e sonho pessoal, e foram convidados a escrever seus sonhos no papel e colocá-los no balão correspondente. Depois de encherem os balões, cada um pode customizá-los livremente, para que pudessem reconhecê-los.

Cada um dos jovens escolheu o balão correspondente a um sonho para começar a dinâmica. Com o balão em mãos, o primeiro exercício consistia em interagir com ele sem que deixasse chegar ao chão, sem estourar ou que o perdesse no meio da turma. Os educadores então trouxeram o restante dos balões com os sonhos de cada jovem para a roda, propondo que criassem estratégias individuais e coletivas para se relacionar com todos eles, mantendo a mesma regra inicial.

A certa altura da atividade, os jovens foram levados a escolher seu sonho “menos importante”, estourando o balão correspondente. A escolha foi repetida até que cada adolescente carregava apenas seu sonho mais importante. A turma foi convidada a compartilhar qual sonho mantiveram consigo e o por que de sua escolha, enquanto a equipe de educadores apresentava a eles os conceitos tema do encontro. No final desta dinâmica, os jovens criaram uma escultura coletiva com seus balões dos sonhos.

A próxima atividade foi um exercício de estímulo ao desejo de sonhar com uma nova pergunta chave foi lançada: O que eu sonho quando sonho?

Em grupos de quatro a cinco pessoas, a turma foi apresentada a notícias de jornais relacionadas a diferentes temas relacionados à juventude, do ponto de vista social, político, cultural e econômico, entre outros. Cada grupo escolheu entre uma e três notícias para fazer uma leitura crítica, analisando fatos narrados e refletindo os diferentes aspectos a eles relacionados.

A partir da pergunta Como poderia ter sido, se …, cada grupo recriou uma das notícias analisadas, usando os sonhos de cada membro do grupo como inspiração, com o convite para que cada um se permitisse sonhar além dos sonhos possíveis. As notícias recriadas foram organizadas em fanzines.

Para encerrar o encontro, as e os jovens foram convidados a refletir sobre as competências trabalhadas nas dinâmicas, os processos individuais e coletivos que fizeram parte dessa experiência. Como tarefa, cada adolescente foi convidado a trazer consigo um objeto que representasse seu sonho no próximo encontro.

Para dar continuidade ao aprendizado sobre a importância de desenvolver o pensamento crítico e criativo, a autonomia, a resiliência e a responsabilidade, a segunda parte do encontro sobre sonhos, propósitos e objetivos começou com uma reflexão sobre os aspectos socioculturais que influenciam nossas escolhas e a percepção da diversidade de narrativas que cada indivíduo pode ter sobre si.

A turma foi convidada a refletir ainda sobre O perigo da história única, assistindo à palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie sobre o tema:

 

 

Durante o debate após a palestra, foi elaborado um quadro de nomes de pessoas que consideradas referências para o grupo. A partir da análise do quadro , foi proposta uma reflexão sobre “O que eu quero” e “O que fui convencido(a) a querer”.

Uma segunda pergunta foi lançada à turma, com o objetivo de promover um debate sobre autonomia e a responsabilidade sobre suas escolhas e sonhos: Quem eu sou e quem eu quero ser?

Após organizarem a sala com os objetos representativos que cada jovem apresentou, eles foram convidados a refletir sobre esta escolha ao som da música “Que nem a gente” de Celso Viáfora:

 

 

Em seguida, cada jovem foi convidado a falar sobre seu sonho a partir do objeto que escolheu. Após esta rodada, cada jovem recebeu uma folha de papel para responder às perguntas: Quem eu sou? e Quem eu quero ser?, refletindo sobre os sonhos que carregam consigo, mapeando os possíveis de realização e os mais difíceis a médio, curto e longo prazo.

Diante das respostas à questão Quem eu quero ser, uma segunda folha, personalizada com informações relacionadas às ideias de sonhos, propósitos e objetivos, foi entregue aos jovens, para que realizassem um mapeamento a partir das seguintes questões:

  • – O que eu preciso fazer para ser quem eu quero ser?
  • – Quais as facilidades para ser quem eu quero ser?
  • – Quais as dificuldades para ser quem eu quero ser?
  • – Por que eu quero ser quem eu quero ser?

Algumas competências práticas como comunicação e comunicação interpessoal, o pensamento crítico, a criatividade, a expressão corporal e verbal e o letramento digital foram trabalhadas no encontro ‘Conhecendo as profissões’.

Para proporcionar uma reflexão coletiva e crítica sobre o tema profissões e mercado de trabalho, a turma foi dividida em grupos para montar juntos um painel, a partir de algumas orientações:

  • O que é uma profissão? (resposta coletiva)
  • Escreva até 05 profissões/área que você acha que nunca trabalharia. (individual)
  • Escreva até 05 profissões/área que você admira, mas acredita não ter perfil. (individual)
  • Escreva 03 profissões que você se interessa e gostaria de conhecer mais.

Após um tempo de “pesquisa-ação”, cada jovem apresentou suas três profissões selecionadas.

Para relacionar autoconhecimento, criatividade, sonhos e senso crítico, a turma foi convidada a debater a pergunta Como escolher uma profissão?, após assistirem o vídeo COMO ESCOLHER UMA PROFISSÃO: Dicas de carreira para jovens e adolescentes”, do canal Manual do Homem Moderno, no Youtube:

 

 

Após o debate e com o painel de profissões montado, as e os adolescentes foram orientados a pesquisar usando a internet:

  • Uma curiosidade de cada profissão;
  • Pontos positivos de cada profissão;
  • Pontos negativos de cada profissão;
  • Qual a formação necessária?

Posteriormente, cada jovem apresentou o material pesquisado e foi realizada uma reflexão sobre a importância da responsabilidade e do autoconhecimento na hora de fazer escolhas profissionais.

Debates e teatro explicam a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente

Um dos principais objetivos do projeto da Escola de Cidadania para Adolescentes é apresentar para as e os jovens participantes seus direitos e dar a elas e eles instrumentos para que se tornem cidadãos com maior entendimento de sua posição dentro da dinâmica democrática.

Para aproximá-los de seus direitos, foi pensada uma oficina especial para debater o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) – que é o marco legal e regulatório dos direitos humanos para crianças e adolescentes (desde o nascimento até os 18 anos ou até os 21 anos, para algumas questões) no Brasil.

Nesta oficina, os educadores propuseram uma atividade teatral: o Teatro da vida. Uma pequena peça, na qual as personagens eram convidadas a argumentar com a protagonista sobre o melhor caminho a seguir quanto à superação das dificuldades financeiras de sua família.

Enredo:

Sol é adolescente, pobre e leva uma vida difícil. Precisa se dividir entre os estudos, preocupações e afazeres domésticos. Sua mãe é deficiente e não pode fazer esforço nem trabalhar fora. Seu pai é alcoólatra e ausente e, quase sempre, não cumpre com suas responsabilidades. O seu desafio é aconselhar Sol a escolher o caminho que seus personagem acha que é melhor.

 

Personagens:

  • Pai violento e alcoólatra que não trabalha (ausente);
  • Mãe deficiente que não pode trabalhar (lamuriosa);
  • Adolescente filha de pai violento e mãe deficiente (confuso);
  • Traficante que precisa de um adolescente (insistente);
  • Dono / dona de padaria oferece trabalho (explorador e mesquinho);
  • Conselheiro ou conselheira tutelar (encaminha para acessar as políticas públicas);
  • Professor ou professora (aconselha a estudar);
  • Vizinha/vizinho (aconselha a fugir).

 

Depois da apresentação, a turma seguiu para uma roda de conversa sobre o que sentiram ao interpretar a peça e quais as dificuldades que tiveram para criar. Em seguida, algumas frases foram apresentadas aos jovens, para discutirem se estavam CERTAS ou ERRADAS.

“Crianças e adolescentes devem trabalhar para ajudar seus pais quando eles não têm condições de sustentar a família.”

“Adolescentes devem ir para a cadeia de adultos quando cometem crimes.”

“Se mais oportunidades forem dadas a adolescentes, menos crimes cometerão.”

“Crianças e adolescentes devem estudar mais e brincar e se divertir menos.”

 

A partir destas questões, a turma passou a estudar os termos do Estatuto da Criança e do Adolescente: o que é o ECA, quais direitos estão previstos no estatuto da juventude, qual a importância do ECA para as garantias de direitos destes cidadãos.

A partir daí, a turma conheceu alguns conceitos e fatos históricos relacionados à adolescência e foi convidada a refletir sobre a realidade brasileira e outras questões surgiram:

 

  • Já que existe o ECA, porque há crianças e adolescentes que continuam sem acessar seus direitos?
  • Como garantir que tudo o que está escrito se torne realidade?

 

Todas as discussões do dia foram sistematizadas em cartazes criados coletivamente, abordando o conteúdo apresentado sobre os direitos da criança e do adolescente, sobre a efetividade deste estatuto e os sentimentos que as e os adolescentes tiveram ao longo da oficina.

As juventudes e o direito humano à Comunicação

A Comunicação enquanto direito humano, como as juventudes se relacionam com os meios de comunicação, como produzem, consomem e compartilham conteúdo: estas e outras questões que a permeiam foram tema de duas oficinas da Escola de Cidadania para Adolescentes em São Paulo.

A partir da exposição dos conceitos relacionados à evolução dos meios de comunicação e a Educomunicação, foi debatido com a turma a Comunicação como direito humano. O objetivo dessa conversa é chamar a atenção das e dos jovens para a valorização dos direitos humanos e ampliar o repertório deles sobre o cenário político, econômico e social do campo da comunicação no país.

Em um mural, foram colocados em debate alguns conceitos e fatos históricos relacionados à criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ressaltando seus três pontos fundamentais e a importância do direito à comunicação estar entre eles:

 

  1. Universalidade (inerente a toda pessoa humana, independente de raça, religião, classe social, gênero, etc.)
  2. Indivisibilidade (Os DH devem ser considerados de forma integral, não isolada, já que todos eles são importantes)
  3. Interdependência (Os DH estão relacionados uns aos outros e um pode levar a outros).

 

Após essa exposição, foi discutido com o grupo o conceito de comunicação, problematizando algumas questões: Quais os fluxos de comunicação que perpassam a sociedade? Comunicação e informação são a mesma coisa? O que significa dizer que Comunicação é um direito humano?

Para trazer efetivamente a discussão para o caso brasileiro, foi exibido o vídeo Levante sua Voz (2009), produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social, escrito e dirigido por Pedro Ekman, que faz um retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil.

 

 

Após assistir ao vídeo, o grupo discutiu a Comunicação em nosso país, levando em conta as descobertas trazidas com o vídeo. Por que comunicação é um direito? Como o cenário das comunicações no Brasil viola esse direito?

Depois da discussão, as e os jovens foram reunidos em grupos e começaram a criar apresentações em mídias diversas sobre o tema da oficina. Cada grupo trabalhou uma grande questão para sua apresentação:

 

  • Grupo 1 – Como a mídia representa o jovem?
  • Grupo 2 – A internet democratizou a Comunicação?
  • Grupo 3 – O que Comunicação tem a ver com democracia?

 

O segundo encontro da oficina começou com a aplicação da dinâmica do Telefone sem Fio, que traduz de forma bem humorada algumas questões sociais e políticas que interferem no acesso à Comunicação.

Em seguida, a turma assistiu a vídeo-aula sobre Comunicação, produzida especialmente para a Escola de Cidadania:

 

 

Depois de acompanharem, na vídeo-aula, o relato de jovens ativistas, pesquisadores e representantes de coletivos sobre a importância da luta por uma mídia democrática e plural no Brasil, as alunas e alunos refletiram e debateram sobre como as práticas educomunicativas têm gerado forte impacto na promoção do direito humano à Comunicação.

Como atividade prática, os educadores dividiram a turma em grupos e os conduziram na criação de materiais com técnicas de produção midiática escolhidas por cada um deles, a partir de uma pergunta central: Como a gente se comunica e qual a importância da Comunicação?

ECA organiza oficinas sobre meio ambiente e mudanças climáticas para adolescentes

Para discutir meio ambiente e a crise climática que nosso planeta vem atravessando, foram preparadas duas oficinas com as alunas e alunos da Escola de Cidadania para Adolescentes em São Paulo: uma em sala, com dinâmicas e debates, e a segunda com visitas a espaços de organizações que trabalham questões ambientais na cidade.

No primeiro encontro sobre meio ambiente, foi aplicada a dinâmica da ‘sala desarrumada’: as e os jovens foram recebidos numa sala desorganizada, intencionalmente. A primeira parte do encontro – a retomada dos conteúdos dos encontros anteriores – foi realizada neste ambiente, sem maiores explicações.

Em seguida, a turma foi provocada a falar sobre as condições da sala e sobre a relação que as pessoas criam com os espaços que ocupam, inclusive os coletivos. Foi chamada a atenção para a importância de todos que ocupam e dividem espaços serem corresponsáveis pela sua manutenção, e os adolescentes puderam a refletir sobre a relação entre estas reflexões e o meio ambiente.

Entrando no tema central, foi exibida para a turma a animação “Man” (2012), do ilustrador e animador inglês Steve Cutts, que mostra o relacionamento destrutivo do homem com o meio ambiente, seguida de um debate sobre a obra.

 

 

Para aproximar ainda mais os debates à realidade da turma, foi exibida a vídeo-aula sobre a questão ambiental preparada para a ECA. A partir desta aula, as e os jovens conversaram sobre a importância da atuação de todos na mudança de atitude e no comprometimento em adotar práticas que transformem o modo como a humanidade se relaciona com o planeta.

 

 

Para as visitas aos locais de trabalho e ativismo ambiental, as alunas e alunos dividiram-se em grupos e pesquisaram sobre uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis no centro da cidade e o projeto de horta comunitária na zona sul de São Paulo, anotando dúvidas e preparando perguntas e dividindo entre si as tarefas que formariam o registro educomunicativo da atividade.

Na ECA SP, oficinas exploram o “ser jovem” e a condição das juventudes

Seguindo a programação da Escola de Cidadania para Adolescentes em São Paulo, foram elaboradas atividades para dois encontros temáticos sobre o ser jovem enquanto categoria social e as condições de vida destas juventudes na cidade e em todo o país.

Após uma rodada de conversa retomando os temas dos encontros anteriores, as e os adolescentes foram divididos em grupos para discutir algumas perguntas provocadoras:

  • O que e como é ser adolescente e jovem?
  • Como a sociedade vê o jovem?
  • Como a mídia representa o jovem?

Depois de conversarem em grupos, a turma apresentou suas conclusões. Com a ajuda dos educadores, os grupos alinharam seus pontos de vista e foram apresentados a alguns conceitos essenciais para entendermos a juventude enquanto categoria social:

  • Transição, delimitação etária, marcos legais
  • Visões de juventude

A partir destes conceitos, a turma debateu o direito de ser adolescente e quais espaços as juventudes brasileiras encontram na sociedade, e o período da adolescência como um período de descoberta de talentos e competências:

  1. Como é ser adolescente?
  2. Como eu vejo a adolescência?
  3. Como a sociedade vê a adolescência?

Depois, foram convidados a montar um acróstico com seus nomes, elencando suas habilidades e também produziram trabalhos – cartazes, murais, fanzines – com a síntese das discussões do encontro. Como ‘lição de casa’, as e os jovens ficaram responsáveis por procurar exemplos de notícias representativas da adolescência e do lugar das juventudes na sociedade.

A segunda parte da oficina sobre ser jovem começou com a turma retomando as discussões dos encontros anteriores e apresentando as notícias com temática adolescente coletadas. Com base nas notícias apresentadas, algumas nuances do conceito do ser adolescente e jovem foram colocados em pauta:

  • Como a mídia apresenta o jovem?
  • O que caracteriza a cultura juvenil?

Algumas das preocupações centrais que permeiam a fase da adolescência também estiveram em foco: Como se preparam para o mundo do trabalho? Como pensam sua relação com a família? Como escolhem profissões? Como tomam conhecimento de seus direitos? Como participam da sociedade e da política? Como constroem sua autonomia?

Uma dinâmica explorou o conceito de ‘competência’ e suas aplicações ao longo da vida. As e os adolescentes revisitaram seus acrósticos para categorizar suas competências entre habilidades, conhecimentos e atitudes. foram debatidos os pilares da educação no século XXI – aprender a SER, FAZER, CONHECER E CONVIVER – e a tríade de desenvolvimento individual – IDENTIDADE, INTERATIVIDADE E AUTONOMIA.

De posse destes conceitos, a turma se debruçou sobre o mural com suas competências e conversou sobre como cada uma delas, em conjunto, pode oferecer contribuições para seu desenvolvimento pessoal e social. Para enriquecer ainda mais a discussão, assistiram a vídeo-aula sobre juventudes, criada especialmente para a ECA:

Depoimentos de especialistas e ativistas trouxeram diferentes perspectivas sobre o ser jovem e participar ativamente de movimentos sociais e da política local e nacional para encerrar a atividade.